119 anos de Luiz Carlos Prestes e um poema de Pablo Neruda
Hoje é o aniversário do general da Coluna Invicta, do mais destacado comandante da esquerda brasileira no século XX.
Nascido em 3 de janeiro de 1898, Luiz Carlos Prestes foi um dos principais líderes revolucionários da América Latina, secretário-geral do Partido Comunista por quase quatro décadas e integrante do Comitê Executivo da III Internacional. Com seus erros e acertos, sua trajetória heróica é inesquecível e deve ser permanentemente reverenciada pelo povo brasileiro.
Logo a seguir, numa lembrança oportuna dos camaradas Breno Altman e Gilberto Maringoni, poema composto pelo poeta chileno Pablo Neruda e declamado no famoso comício do Pacaembú, em 1945, logo após a libertação de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, das masmorras do Estado Novo:
"Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros,quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,que levei anos e anos no coração para dizer-vos, pensamentose saudações. Saudações das neves andinas,saudações do Oceano Pacífico, palavras que me disseramao passar os operários, os mineiros, os pedreiros, todosos povoadores de minha pátria longínqua.Que me disse a neve, a nuvem, a bandeira?Que segredo me disse o marinheiro?Que me disse a menina pequenina dando-me espigas?Uma mensagem tinham. Era: Cumprimenta Prestes.Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-tee nos conta amanhã o que viste.Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeadopor um mar de corações vitoriosos.Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viraçãodas bandeiras livres de seu povo.Me lembro em Paris, há alguns anos, uma noitefalei à multidão, fui pedir auxíliopara a Espanha Republicana, para o povo em sua luta.A Espanha estava cheia de ruínas e de glória.Os franceses ouviam o meu apelo em silêncio.Pedi-lhes ajuda em nome de tudo o que existee lhes disse: Os novos heróis, os que na Espanha lutam, morrem,Modesto, Líster, Pasionaria, Lorca,são filhos dos heróis da América, são irmãosde Bolívar, de O' Higgins, de San Martín, de Prestes.E quando disse o nome de Prestes foi como um rumor imenso, no ar da França: Paris o saudava.Velhos operários de olhos úmidosolhavam para o futuro do Brasil e para a Espanha.Vou contar-vos outra pequena história.Junto às grandes minas de carvão, que avançam sob o mar,no Chile, no frio porto de Talcahuano,chegou uma vez, faz tempos, um cargueiro soviético.(O Chile não mantinha ainda relaçõescom a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.Por isso a polícia estúpidaproibiu que os marinheiros russos descessem,e que os chilenos subissem).Quando a noite chegouvieram aos milhares os mineiros, das grandes minas,homens, mulheres, meninos, e das colinas,com suas pequenas lâmpadas mineiras,a noite toda fizeram sinais, acendendo e apagando,para o navio que vinha dos portos soviéticos.Aquela noite escura teve estrelas:as estrelas humanas, as lâmpadas do povo.Também hoje, de todos os rincõesda nossa América, do México livre, do Peru sedento,de Cuba, da Argentina populosa,do Uruguai, refúgio de irmãos asilados,o povo te saúda, Prestes, com suas pequenas lâmpadasem que brilham as altas esperanças do homem.Por isso me mandaram, pelo vento da América,para que te olhasse e logo lhes contassecomo eras, que dizia o seu capitão caladopor tantos anos duros de solidão e sombra.Vou dizer-lhe que não guardas ódio.Que só desejas que a tua pátria viva.E que a liberdade cresça no fundo do Brasil como árvore eterna.Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,carregadas por estes anos entre a pele e a alma,sangue, dores, triunfos, o que devem se dizero poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.Um grande silêncio peço de terras e varões.Peço silêncio à América da neve ao pampa.Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.Silêncio: que o Brasil falará por sua boca."
Camarada Prestes, presente! Hoje e sempre!(Pablo Neruda, 1945)
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