O PT que queremos é o PT das bases, dos núcleos, por Reimont Otoni


Os tempos que vivemos no Brasil são muito difíceis, embalados por uma crise de representação que atinge o mundo inteiro.

O PT governou o país por 12 anos, considerando que os 18 meses do segundo mandato da presidenta Dilma foram paralisados pelo Congresso Nacional mais reacionário de nossa jovem república, coordenado pelo deputado cassado e preso, Eduardo Cunha.

Não podemos nunca esquecer que assumimos o poder num modelo de democracia burguesa, marcada pela lógica dos coronéis da política, que sempre tiveram o povo como seu gado, como massa de manobra. Nesse modelo coronelista, perdurou a política da gratidão, na qual o coronel dava e o povo agradecia com a sua obediência e subserviência. Não tivemos tempo de mudar essa lógica, de fazer o povo compreender o projeto de país como o seu projeto de vida.

O povo aplaudiu quando tiramos 40 milhões da linha da miséria, quando se beneficiou do Minha Casa Minha Vida, do Prouni, do Fies, do Luz para Todos, do Ciência sem Fronteiras, do Brasil Alfabetizado, da ampliação das oportunidades. Mas, capitaneado pela grande mídia, pelo judiciário e pela classe política vendida ao Capital, deixou de reconhecer os direitos conquistados e impingiu ao PT uma derrota eleitoral não vista em nossos 36 anos de existência. O número de prefeituras, vice prefeituras e vereanças de nosso partido será bem menor a partir de 01 de janeiro de 2017.

Haveremos de fazer muita análise e oxalá nos conscientizemos de que precisamos mudar o nosso modo de fazer política, assumindo, talvez de forma atualizada, o que planejamos para nós no início do PT. É o que chamamos de ‘’volta’’ ao primeiro amor: nascemos em 1980 como um partido da classe trabalhadora para transformar as relações sociais, para transformar a sociedade; não temos o direito de alterar esse foco, essa identidade.

Podemos dizer que o Capital nos tolerou enquanto pôde. Quando viram que as garantias para os pobres poderiam se perpetuar, nos golpearam, tomaram à força o poder e apresentaram, com uma narrativa sedutora, uma ilusão ao povo brasileiro. Haveremos de lutar para que a letargia e a anestesia passem.

O Ciclo Econômico do pré-sal seria um passaporte para o povo, para a sua emancipação definitiva, uma vez que a presidenta Dilma determinou que 75% seriam destinados à Educação e 25% à Saúde. Parece que isso foi insuportável para os coronéis políticos, e o golpe se deu.

Os ciclos econômicos brasileiros sempre se destinaram ao fortalecimento do Capital, enriquecendo os já ricos e empobrecendo ainda mais os pobres. Assim foi o pioneiro Ciclo do Pau-Brasil, de 1500 a 1530, com a escravidão dos indígenas e a extinção da madeira. O Ciclo da Cana de Açúcar gerou o tráfico negreiro, a monocultura, os latifúndios e o uso em larga escala da mão de obra escrava. O Ciclo do Ouro gerou riqueza para a metrópole europeia e esgotou as minas brasileiras. O Ciclo do Algodão foi usado para suprir o mercado externo europeu. O Ciclo do Café, o ‘ouro negro’, enriqueceu fazendeiros e o Brasil chegou a exportar mais de 50% do produto para o consumo mundial. O Ciclo da Borracha, do Fumo, da Erva Mate, do Petróleo e da Soja também serviram ao Capital e a seus interesses mais nefastos.

O pré-sal quebraria esta lógica. E a forma que encontraram para retomar o controle foi por meio de um golpe “constitucional”, que ainda não colocou tanques nas ruas ... ainda.

Por enquanto, embrulham essa verdadeira bomba relógio e seus pacotes de maldades em um belo papel de presente, com laços deslumbrantes, para ludibriar a sociedade. Retiram direitos alardeando que tudo beneficiará o país. Na narrativa oficial, a PEC 241 vira equilíbrio fiscal; o fim do Estado Social vira responsabilidade econômico-financeira; a escola com mordaça vira escola sem partido e proteção a crianças e jovens; o corte de direitos trabalhistas vira “flexibilização”. A narrativa é encantadora e tem anestesiado o povo. Mas ele haverá de acordar. 

Nosso fazer político, neste momento, deve ter o compromisso de desfazer esses laços, denunciar a narrativa e abrir o ‘presente’, desvendá-lo, desnudá-lo. É imprescindível dialogar com as pessoas, restabelecer os vínculos com a sociedade. Nós, do PT, nascemos para isso e precisamos retomar esse caminho.

Em São João do Meriti, um grupo de petistas de diversos lugares do Estado do Rio, majoritariamente da Baixada Fluminense, tendo como anfitrião o companheiro Jorge Florêncio, nos reunimos para uma manhã de formação. Ali, nos comprometemos nessa tarefa de estar ao lado do povo e, junto com ele, nos empenharmos nessa árdua e necessária tarefa de desconstruir a narrativa covarde dos golpistas: desembrulhar o pacote de maldades e nos reencontrarmos como um partido da classe trabalhadora.

Vereador Reimont (PT-RJ)

Sábado, São João de Meriti, Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2016

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