Pazuello na CPI e a imagem dos militares, por Sérgio Batalha

O governo Bolsonaro tem dois pilares: a extrema-direita ideológica, nela incluída lideranças evangélicas ultraconservadoras, e os militares. O primeiro tem na destruição do Estado socialdemocrata o seu objetivo e está satisfeito, portanto, com os rumos do governo. A extrema-direita cultua a morte e não vê qualquer problema no número absurdo de vítimas na pandemia.

Já os militares embarcaram em um projeto de poder, mais do que em um projeto ideológico. Não compartilham deste objetivo de destruição do Estado brasileiro, até porque fazem parte da sua estrutura, usufruindo de polpudas verbas. São essencialmente funcionários públicos com uma ideologia de direita, forjada pela chamada “doutrina da segurança nacional” em anos de estudo em academias militares.

Este segundo pilar está abalado e apresentou mais uma rachadura após o depoimento de Pazuello. As mentiras do seu depoimento fizeram parecer que o depoente era um deputado do Centrão, tal a sua desfaçatez e cinismo.

Não se viu ali um orgulhoso general de divisão do exército brasileiro e sim um político matreiro, preocupado em preservar sua liberdade e o governo do seu chefe. Não por acaso, ele foi de terno e não de farda. Seus colegas oficiais superiores não admitiriam que ele expusesse as Forças Armadas a mais esta humilhação.

As vantagens obtidas na reforma da previdência, os cargos em comissão generosamente distribuídos em todo o ministério para os oficiais superiores e o recente decreto “fura-teto” para beneficiar os altos oficiais da reserva nomeados para estes cargos, estão cobrando seu preço. E ele não será barato, envolve a própria imagem dos militares junto à sociedade.

Não há reversão neste desgaste de imagem e ele só pode piorar. Os brasileiros não esquecerão tão cedo que o Ministro da Saúde durante a pandemia era um general da ativa e que sua negligência foi responsável por mais de 400 mil mortes.

O resultado será um progressivo afastamento dos militares de Bolsonaro, até por um óbvio pragmatismo. A baixa na popularidade do governo e do próprio Bolsonaro nas pesquisas eleitorais devem agravar o quadro.

Figuras como Pazuello serão abandonadas à própria sorte, submetidas à Justiça e ao opróbio na opinião pública. O casamento dos militares com Bolsonaro terminará em divórcio, com um patrimônio negativo a ser partilhado por ambos os cônjuges.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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