Os capitães do povo e o capitão genocida, por Sérgio Batalha

Hoje a Revolução dos Cravos completa 47 anos. O movimento popular e militar pós fim à ditadura salazarista, que durante 48 anos manteve Portugal em um pântano de autoritarismo, conservadorismo  e atraso econômico.

O movimento foi conduzido majoritariamente por capitães do exército português, de pensamento socialista, exauridos por anos de uma guerra colonial insensata em Angola. 

Há um filme, “Capitães de Abril”, que retrata a tomada do poder, a partir do avanço de uma coluna blindada em direção à Lisboa. A Revolução dos Cravos foi quase que totalmente pacífica e há uma cena engraçada no filme que me marcou.

No seu caminho, a coluna blindada subitamente para, há um sobressalto e o comandante fala por rádio com o veículo está na testa da coluna. Ele explica que parou, pois o sinal de trânsito estava fechado.

Assim, eram capitães que respeitavam a lei e, acima de tudo, o povo, que com eles se confraternizou nas ruas. Embora muitos fossem socialistas, não impuseram um regime socialista a Portugal, que se transformou em um país democrático, com eleições livres e um regime socialdemocrata, como a maior parte da Europa.

Ninguém lá tem saudades da ditadura de Salazar, sabem que Portugal se desenvolveu muito após a chegada da democracia e da modernização do país. Nem todo capitão é genocida e autoritário, há os capitães de abril para quem, como no poema que foi a senha para a revolução, “o povo é quem mais ordena”.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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