O atraso na vacinação será o resultado do fracasso diplomático de Bolsonaro, por Sérgio Batalha

A diplomacia é uma arte sutil e seus resultados são muitas vezes de difícil percepção para a maior parte da população. No entanto, o sucesso ou fracasso da diplomacia acaba influenciando concretamente a vida das pessoas.

O Brasil tem uma longa e vitoriosa tradição na diplomacia. Desde o final do século XIX tivemos êxitos notórios em nossa diplomacia, negociando tratados vantajosos, que trouxeram harmonia e influência na América do Sul.

Posteriormente, ao longo do século XX, construímos uma linha diplomática sólida no sentido da defesa da paz, da não intervenção na autonomia dos povos e de alinhamento aos países do chamado Terceiro Mundo. Tivemos o primeiro chanceler da ONU, que foi o brasileiro Osvaldo Aranha.

A própria ditadura militar manteve, após algumas derrapadas no início, as linhas gerais da diplomacia brasileira, prestigiando a atuação do Itamaraty.

Após o ok fim da ditadura militar, avançamos ainda mais, com governos democráticos que atuavam com sucesso em crises e negociações internacionais. 

Chegamos ao auge do nosso prestígio no governo Lula, quando o Brasil foi um dos articuladores do BRICS e se tornou um “player” no cenário mundial da diplomacia. Não por acaso, foi um dos períodos de maior prosperidade em nossa história, com a ampliação extraordinária de nossas exportações.

Bolsonaro assumiu renegando toda esta tradição construída em mais de um século. Começou nomeando um funcionário de terceiro escalão para o cargo de Chanceler, o único disposto a assumir um discurso agressivo de extrema-direita no cenário mundial.

Passamos rapidamente a nos tornar motivo de constrangimento e até chacota em eventos internacionais, com um alinhamento subserviente às políticas americanas mais radicais. Ficamos isolados no cenário mundial, votando muitas vezes com quatro ou cinco países folclóricos nas posições mais absurdas.

Por fim, como se não bastasse, passamos a ofender e provocar o nosso maior parceiro comercial, a poderosa China. O chanceler e o um dos filhos de Bolsonaro tiveram vários embates com o embaixador chinês, todos baseados em provocações gratuitas.

Agora temos necessidade de insumos chineses para a produção de vacinas contra a Covid, bem como de uma prioridade na compra de vacinas da Índia, tendo votado contra uma importante proposição deste país na OMC.

O resultado concreto da estupidez e irresponsabilidade no abandono de nossa tradição diplomática será o atraso na vacinação do nosso povo. Ninguém terá boa vontade com um país pária, que ofendeu e ignorou antigos parceiros diplomáticos e comerciais como China e Índia. Mais um crime de responsabilidade no rosário acumulado por Bolsonaro.

Impeachment já!

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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