Bolsonaro e a construção de um personagem, por Sergio Batalha

Publicado originalmente em seu perfil no Facebook.

Um dos equívocos que muitas pessoas têm cometido em relação a Bolsonaro é acreditar que ele seria tão tosco quanto aparenta. Outro é julgar que a divulgação de declarações ou gestos desastrados e grosseiros teria um efeito negativo sobre o seu eleitorado.

Hoje já se pode afirmar com alguma segurança que Bolsonaro é um personagem que foi construído seguindo um figurino da extrema-direita mundial, contando inclusive com assessoria externa. Trump e Boris Johnson tem aspectos bem semelhantes e Bolsonaro copia visivelmente o primeiro em relação a diversos aspectos.

O personagem Bolsonaro é um “cara do povo”, “sincero e honesto”, com um estilo propositadamente brusco, “mas que fala as verdades”.  Ele atua no senso comum das camadas mais pobres e menos instruídas da população, divulgando mentiras e explicações absurdas que mantém sua popularidade em alta.

Sua aparência física é propositadamente desleixada para reforçar a imagem de “homem do povo”, com direito a alguns palavrões e piadas grosseiras. 

A extrema-direita tem como projeto a destruição do Estado e suas instituições, ao menos da forma que as conhecemos. Ela investe contra os direitos civis e coletivos, contra a saúde e educação públicas, além de eliminar o papel do Estado na economia. 

Toda a legislação que regula a atuação das empresas é suprimida, inclusive a trabalhista, ambiental e de proteção ao consumidor. 

O Estado permanece forte apenas na área de segurança para reprimir os adversários políticos do regime e garantir a absoluta liberdade para as empresas e indivíduos mais ricos de explorar o restante da população.

Assim, esqueçam o combate cultural e a tentativa de ridicularizar Bolsonaro sob a ótica de uma classe média instruída. É exatamente este debate ideológico e estético que interessa a Bolsonaro. Ele é o cara simples, que se atira no mar em Praia Grande (uma praia popular no litoral paulista), em oposição ao “riquinho” Dória, que usa roupas chiques e vai para Miami.

O enfrentamento tem de se dar em relação aos resultados concretos da incompetência do seu governo. Temos de expor o fracasso econômico, na saúde pública, na ausência de uma política educacional. Em resumo, naquilo que afeta o cotidiano do cidadão.

Trump perdeu nos EUA não apenas em função de uma unidade da oposição, mas, principalmente, pelo absoluto fracasso de sua política de enfrentamento da pandemia e o absurdo número de mortes que dela resultou.

O caminho para a vitória em 2022 passa por esta divulgação dos fracassos do governo Bolsonaro e não de imagens ou declarações do personagem que ocupa a presidência.

_______________________________________________________

Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

Nenhum comentário: