No Rio, derrotar Crivella e Bolsonaro no segundo turno é aplicar derrota ao fascismo à brasileira, por Daniel Samam

Publicado originalmente no Brasil 247.


Um ponto positivo dessas eleições municipais foi, numa análise superficial, a redução da disseminação de fake news e menor financiamento de campanhas de fascistas, milicianos et caterva. Fato que resultou na queda de patamar de votos de candidatos comprometidos com o bolsonarismo nas principais capitais do país.

No entanto, o segundo turno das eleições da cidade do Rio terá duas candidaturas de direita: a do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), representando a direita tradicional; E a do atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), com apoio de Bolsonaro, representando a extrema direita, o fascismo à brasileira, a expressão de uma política intolerante, preconceituosa e genocida.

Nós, da esquerda, podemos afirmar que são duas candidaturas semelhantes em relação ao receituário econômico hegemônico no país, que exclui os pobres e, consequentemente, aprofunda a desigualdade social. Mas o debate sobre o segundo turno nos exige pragmatismo e foco no principal inimigo a ser derrotado: o fascismo à brasileira. Derrotar Crivella no Rio significa aplicar uma derrota ao bolsonarismo em seu principal reduto eleitoral.

É verdade que Bolsonaro ainda possui aprovação considerável no Rio, seu berço político e onde obteve votação de 66,35% em 2018. Mas o eleitorado carioca tem reduzido a avaliação positiva sobre o presidente, como mostraram as últimas pesquisas de opinião de grandes institutos, como o Ibope e o Datafolha.

Bolsonaro, apesar do desgaste, exerceu influência decisiva na votação de Crivella, mas aquém à onda de 2018. O presidente só entrou na campanha nos últimos dias e de forma muito recuada. Crivella também se valeu do apoio de setores mais radicais do campo evangélico, comprometidos com o projeto bolsonarista. Suas melhores votações vieram da Zona Oeste, área com a maior população evangélica da cidade e região que define a disputa na cidade por deter cerca de 40% do eleitorado.

E região sofre forte influência de grupos evangélicos, domínio territorial das milícias em conflito ou em colaboração com o tráfico de drogas e a sistêmica carência de infraestrutura urbana, de serviços de saúde e educação a cultura. Apesar de Paes ter ganho na região no primeiro turno, foi a Zona Oeste quem garantiu a sobrevida de Crivella.

Logo, diante deste cenário, Crivella prepara um arsenal de ataques contra Paes nos programas eleitorais na televisão e no rádio a partir desta sexta-feira (20). O esforço do alcaide será desconstruir a imagem de “bom gestor” de Paes. A equipe de campanha de Crivella vai bater especialmente em casos ligados a investigações da Operação Lava Jato. Todo planejamento da ofensiva tem coordenação de Rodrigo Bethlem, o estrategista eleitoral de Crivella e ex-secretário de Paes.

Nesta semana, Crivella resolveu se antecipar e esticar a corda, dobrando a aposta no discurso virulento. Ofendeu o governador de São Paulo e rival de Bolsonaro, João Dória (PSDB) - chamando-o de viado e vagabundo - e fez insinuação sobre uma possível homossexualidade de Eduardo Paes. Ontem, Crivella postou vídeo criminoso junto ao deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC), onde insinuava que o PSOL negociou participação na secretaria de educação e que, com isso, iria estimular a pedofilia nas escolas. A radicalização na atitude do alcaide tem método e o objetivo de associar sua imagem à face bolsonarista mais radical.

Em tese, Paes tende a obter uma votação expressiva. É o que apontaram as pesquisas nesta semana. Mas, qual o risco? Com duas candidaturas com índices de rejeição, ataques para todos os lados e profunda descrença por parte da população, pode-se criar um caldo de cultura capaz de estimular o eleitor a votar nulo ou pior, a não comparecer às urnas no próximo dia 29 de novembro. E este cenário só é favorável para Crivella e Bolsonaro.

Por isso, o sentido que devemos dar ao voto em Eduardo Paes neste segundo turno é o de rejeição e veto a Crivella, Bolsonaro e ao fascismo à brasileira.

Fora, Crivella! Fora, Bolsonaro!

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