“É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos”, por Sergio Batalha

Eu sei – vocês sabem – que podemos de novo fazer do Brasil o país dos  nossos sonhos”; leia a íntegra da fala de Lula - Lula

O discurso de Lula ontem redefiniu a conjuntura política nacional. Ele não apenas se lançou candidato como o fez de forma brilhante, marcando campo com o fascismo e com a direita brasileira.

Após sua libertação, Lula parecia entorpecido, ausente, com uma intervenção pequena na política brasileira. Alguns chegaram a vaticinar que ele estaria aposentado como político. Depois de ontem, se percebe que, na verdade, ele fez uma profunda reflexão.

Lula é, ao contrário do que muitos preconceituosos imaginam, um leitor voraz e possui uma inteligência ímpar, aliada a uma percepção também incomparável da consciência popular. Ele nunca esqueceu ou renegou sua origem pobre e alimenta seu conhecimento da realidade em contatos diretos com o povo.

O discurso de ontem marcou uma clara ruptura com um discurso centrista que ele havia adotado desde a “Carta ao Povo Brasileiro”, que pavimentou sua primeira vitória  na eleição presidencial em 2002.

Lula adotou um discurso de esquerda sem concessões à elite. Fez críticas duras não apenas ao desastroso governo fascista e entreguista de Bolsonaro, mas ao próprio capitalismo brasileiro. A citação de Victor Hugo foi genial e revelou de forma concisa a injustiça do nosso modelo econômico.

Lula percebeu que a tradicional estratégia da política brasileira da captura do centro, ou seja, da moderação do discurso à esquerda e à direita, foi superada com a eleição de Bolsonaro.

Bolsonaro rompeu todos os paradigmas anteriores da política brasileira fazendo um discurso radical, sem alianças e de ruptura com o sistema. Apesar da fraude da eleição de 2018, com a prisão ilegal de Lula e a manipulação das mensagens de WhatsApp, não há como negar que este discurso, mesmo falso, contra o sistema polarizou a política nacional.

O brasileiro tem a sensação de que temos um sistema injusto e quer mudá-lo. Muitas vezes sua percepção é turvada pela sua ignorância ou pela desinformação, fazendo-o mirar na corrupção, nos políticos em geral ou até no funcionário público. Mas, no fundo, sua indignação é com uma sociedade injusta e excludente.

Lula adotou claramente o discurso da mudança do modelo de sociedade, declarando inclusive seu repúdio a pactos que excluam o povo de sua formulação. As alianças devem ser amplas, mas construídas a partir de um discurso e de uma liderança natural na sociedade.

A natural ansiedade em relação a uma desastrosa reeleição de Bolsonaro tem levado muitos a tentarem reproduzir um discurso superado de chapão com o centro, inventando possíveis candidatos de consenso.

Não há ninguém melhor no Brasil para liderar uma frente ampla pela Democracia e pela Justiça Social do que Lula. Ele é a maior liderança popular do país e em qualquer pesquisa que se faça hoje o maior adversário de Bolsonaro. E não há comparação entre os dois, seja em termos de capacidade intelectual, carisma ou habilidade na articulação política.

Lula será candidato para o bem do povo brasileiro e todos devemos lutar para que esta candidatura se concretize. É a maior chance que temos de recuperar o nosso país do pântano de miséria e desespero em que ele está afundando.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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