Contos obscuros, por Paulo Branco Filho


Rodrigo Janot, guardião com contornos paternais em relação aos meninos da Lava Jato, tentou inflar os ânimos da opinião pública em favor da operação.

O tweet explosivo do ex-Procurador Geral visava desviar a atenção dos fatos, dando tons malignos à imagem de Gilmar Mendes. Um conto onde o grande algoz do bem tornou Janot capaz de cometer um homicídio, em plena sessão do tribunal. O ato e o local ilustram e sugerem magnitude à história, onde o mártir age pelo bem do império e de seus filhos.

A história de que Gilmar avançou juridicamente sobre a filha de Janot, segundo o blog de Reinaldo Azevedo, não se confirma. Pelo contrário, quem apelou para ataques contra filhos de alvos da operação foi o próprio Janot. O procurador, na tentativa de depor Michel Temer, atacou a filha do ex-presidente.   

A operação Lava Jato também atuou contra o filho de Lula, na acusação de que ele, o filho, havia exercido tráfico de influência no que se referia a compra de caças Gripen, da Suécia. Uma história sem pé nem cabeça já que quem escolheu os caças foi a Aeronáutica.

O fato é que Rodrigo Janot tenta reerguer um boneco inflável furado.

Tudo vem à tona exatamente quando o STF vota a anulação de sentenças em que os condenados não puderam exprimir sua defesa após a acusação de delatores beneficiados.

A votação imprime uma derrota a Lava Jato.

Nesse ínterim, aquilo que é mais grave tomou tons de naturalidade: também ontem surgiram mais provas de que o MP utilizou meios ilegais da Suíça e de Mônaco para obter prisões preventivas e satisfazer os desejos do juiz que precisava de pressão para agir. Um “risco calculado” segundo o procurador Dalton Dallangnol.

Os meios ilegais pelo qual os justiceiros obtiveram informações, até aqui, não vem ao caso. Mas quando se trata de provas reais e fatais, como as que o Intercept trouxe a tona, a quadrilha de Curitiba e seu séquito aninham-se em silencio e desaprovação.

O que se percebe até aqui é que as instituições estão de calças arriadas e se digladiam pelo poder majoritário. Gilmar Medes, aquele que vetou a nomeação de Lula como ministro de Dilma, é apontado como guardião da Constituição. Tornou-se legalista mor quando percebeu que a nova geração de famigerados o tinha como alvo e queria postos maiores que o seu.

Por mais que os crimes cometidos pela Lava Jato afetem a classe política e as instituições como um todo, o STF tenta fazer um malabarismo sem precedentes: aniquilar a operação e manter Lula preso.

Mas isso só escancararia ainda mais a fraqueza da instituição, já que as provas contra Lula são débeis, com arranjos insólitos e criminosos, além de escancarar uma parceria entre os que acusam e o que julga.

Portanto, não haverá justiça e equilíbrio de forças suficientes enquanto mantiverem Lula preso.
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Paulo Branco Filho é professor de artes marciais e cronista.

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