A subida de tom de Bolsonaro sobre a Venezuela, por Daniel Samam


O governo Bolsonaro está subindo o tom de forma perigosa e irresponsável sobre a crise venezuelana. Ontem (16), durante a visita do presidente argentino, Mauricio Macri, que chamou Maduro de "ditador", já era perceptível que Bolsonaro quer ir além do discurso, deixando claro que há uma aliança entre Argentina e Brasil à serviço dos EUA para intervir na Venezuela e destituir Maduro.

Afirmo que essa subida de tom é irresponsável e perigosa porque Bolsonaro e seus asseclas não levam em conta os problemas reais que o Estado brasileiro tem que lidar: mais de 2 mil quilômetros de fronteira no meio da floresta amazônica com a Venezuela; a crise migratória e o fato do estado de Roraima não estar interligado ao sistema elétrico brasileiro, tendo necessidade de comprar energia da... Venezuela.

Hoje (17) o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu no Palácio Itamaraty com opositores do governo de Maduro, como o presidente do Supremo Tribunal de Justiça no exílio, Miguel Ángel Martín, e o ex-prefeito da capital Caracas, Antonio Ledezma, além de representantes dos países que compõem o Grupo de Lima e dos Estados Unidos. Entre as pautas da reunião, estava a discussão de formas de aumentar a pressão sob o governo do venezuelano. Em outras palavras, um movimento de intervenção para depor Maduro. Temos de ter a clareza de que as dificuldades impostas ao povo venezuelano derivam das sanções e bloqueios econômicos perpetrados pelos EUA e seus aliados.

O cerne de toda essa crise está no petróleo e a Venezuela detém as maiores reservas do planeta. Uma curiosidade: em apenas 3 dias de navio, o petróleo sai da Venezuela e chega nos EUA. Diferente do petróleo da Saudita, que leva 45 dias. E tem mais, a Venezuela acabou de assumir a presidência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Por fim, a saída para a crise venezuelana está na capacidade de negociação política com base no respeito às nações e à autodeterminação dos povos. Pilar central da tradição diplomática brasileira que Bolsonaro e seu chanceler insistem em ignorar.

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