Os Limites da “Resistência”, por Paulo Branco Filho


Desde 2016, a expressão “resistência” ganhou notoriedade no campo de esquerda. Enquanto costuravam a trama contra Dilma Rousseff, militantes e políticos inflamados, sem considerar que Dilma ainda era presidenta, anunciavam resistir. Ali, dava-se uma farta demonstração de fraqueza e falta de estratégia: quem somente resiste à ação do inimigo, além de não criar uma ação própria, incisiva e criativa, está seguindo a programação imposta pelo algoz, como se ele fosse o poder.

Depois de meses e meses de “não vai ter golpe”, Dilma caiu seguindo, categoricamente, todo o protocolo.

A mesma história se repetiu quando Lula estava ameaçado de ser preso. A ideia de resistência imóvel foi, mais uma vez, carta única no baralho. Seguindo todo o roteiro dramático que, inclusive, virou série de TV, Lula foi preso sob os gritos de “Resiste, resiste”.

As eleições de 2018 foram apenas a progressão do desastre. Diga-se de passagem, uma progressão pedagógica, já que não faltavam indicativos em ações anteriores de que, há muito tempo, o roteiro estava sendo construído num passo a passo crescente, com um final óbvio e infeliz.

Dando continuidade à cartilha, mantivemos o caráter vitimista, assinando embaixo o protagonismo do algoz: a criação do movimento “Ele não”, mesmo com grande adesão, não surtiu o efeito esperado.  

Em pouco tempo, repetimos os mesmos métodos e discursos para enfrentar as adversidades: o ato de resistir, quando não há forças o suficiente para sobrepor-se ao adversário, torna-se prenúncio da derrota.

Enquanto nossos gestos, baseados unicamente em contrapor à ação do outro, têm se mostrados ineficientes e danosos, do lado de lá, eles mantêm uma estratégia assertiva: alimentam o sentimento punitivista da população, prendendo, de forma arbitrária, figuras como Fernando Pezão para, em seguida, avançar, também de forma arbitrária, sob os quadros de esquerda.

Esse movimento alternado tem confundindo a interpretação das ações e servido como uma escalada para o aprofundamento do caos, prestigiando os próximos governantes. Com a validação dos excessos, se ganha força para implantação de medidas nocivas a população e a soberania nacional.

Uma estratégia vitoriosa já que, além de suprir os anseios reacionários, quando se avança sobre bois de piranha, setores de esquerda também naturalizam tais episódios.

Abandonar o papel de vítima é o primeiro passo para a virada. Criar, ousar e não temer são gestos que irão nos desviar do raio de ação do adversário, abrindo um novo campo para a atuação. E nunca, jamais perder a essência, o centro que nos norteia: devemos agir sempre contra qualquer tipo de injustiça e jamais ter como estratégia política abandonar qualquer um que seja.

Que a nossa criatividade e ousadia resplandeça, tornando como passada inicial para o recomeço, a libertação do maior líder popular do Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva.
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Paulo Branco Filho é cronista e professor de artes marciais.

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