A explosão do ódio, por Gilberto Palmares



“Combinaram de nos matar,
Nós combinamos de continuar vivendo” 
Conceição Evaristo
Assisti da janela, a verdadeira explosão que ocorreu quando confirmada a vitória do candidato da direita a presidente. Buzinas, fogos, gritos e muitos gritos.

Mas não foi uma explosão de alegria e felicidade. Foi uma explosão de ódio contido, os gritos que predominavam foram: fora petralhas, chora petralha, morra petralha.

Parecia uma explosão com medo, com angústia. Foi a explosão de muitos que temem qualquer alteração na estrutura social do Brasil. Na realidade foram gritos contidos por vários anos, desde que foram ensaiadas algumas alterações na situação socioeconômica do Brasil.

Desde que um mal letrado assume a presidência, desde que negros começaram a cursar as universidades. Desde que o nordeste pode crescer as taxas acima da média do país. Desde que empregadas domésticas começaram a adquirir direitos. Desde que pobres começaram a viajar de avião, ao lado dos que hoje gritam. Desde que o Brasil ousou deixar de agir como colônia e atuar com soberania. Desde quando o Brasil foi solidário a explorada África e América Latina e firme com os países que sempre dominaram.

O ódio maturou por muito tempo. Aumentou em quatro disputas presidenciais, vencidas pelos democratas. O ódio acumulado foi tão grande, que segmentos elitistas, mas com alguma trajetória democrática, somaram-se por omissão com a direita carrancuda.

E agora, José?

A verdadeira festa foi sufocada. Os que de fato fazem festa, como confraternização e celebração estão vencidos. Muitos choram.

É provável que seja a hora de chorar. Mas o choro que libera adrenalina. Que libera a revolta. Que alivia tensões. O choro que provoca abraços emocionados. O choro dos que sonham e choram emocionados. O choro dos que sonham e que choram para continuar sonhando.

Nossa derrota não foi sem luta. Nem sozinhos. Milhares e milhares formaram conosco nas manifestações e nas ruas. Nossas praguinhas foram colocadas em vários corações. Mais de 40 milhões votaram no candidato do PT. Não pelo PT, mas pela democracia, pela liberdade, pela justiça social, pela festa, pela diversidade.

Estamos feridos, bem feridos, mas vivos. Temos uns aos outros. É hora de darmos as mãos para iniciar a resistência democrática. Como disse a grande Conceição Evaristo:

“Combinaram de nos matar,

Nós combinamos de continuar vivendo”.
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Gilberto Palmares é Deputado Estadual pelo Partido dos trabalhadores (PT).

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