O atraso disfarçado de antipetismo, por Paulo Branco


As eleições de 2018 vêm demonstrando uma enorme capacidade de ressuscitar ideias velhas, travestidas de novas. A enganosa fala que idealiza repaginar a política tem, mais uma vez, servido bem a todo o eleitorado conservador, que ignora fatos, processos históricos e se mostra incapaz de autoanalisar-se. Foram acometidos por uma obsessão que se tornou doença gravíssima: o antipetismo.

Tudo muito bem elaborado pela grande mídia que, com receituário antigo, constrói e destrói mitos, a fim de proteger e ampliar seus poderes. Foi assim com Getúlio, JK, Jango, Brizola e agora com Lula e o PT.

Em 2014 esse eleitorado vestiu-se de Aécio Neves, alimentando as chamas do conservadorismo moralizador e entoando a suposta bandeira da inovação, mesmo que os retalhos e o tecido estivessem mofados e carcomidos. Diante dos escândalos, esconderam o mineirinho como uma mãe zelosa que protege um filho ameaçado.

Na orfandade gerada pela morte política de Aécio foram adotados, temporariamente, pela Lava Jato, representados pelo tacanho juiz Sergio Moro: um herói blindadíssimo e sem risco.

As consequências da promessa de limpeza na classe política, repletas de seletividade e atropelamento da Constituição, desaguaram na quebra de setores da indústria nacional, desemprego e, consequentemente, na volta, em massa, das antigas mazelas sociais, inclusive o autoritarismo.

Na busca por líderes, aguardaram, de braços abertos, a possível chegada de Luciano Hulk e seu caldeirão de bondades, ou qualquer outro que mantivesse a fantasia do "novo" e estivesse disposto a tocar o projeto mercadológico, anti-Brasil.

Como ninguém apareceu e há um clima fúnebre diante da desgastada e impotente figura de Alckmin, passaram a flertar, com timidez e discrição, o capitão da ignorância. O pragmatismo desse flerte se resume na manutenção daquilo que são contra, já que não há projetos, nem ideias.  Apenas apontam, insultam e na falta de coerência para o sentimento odioso e doentio, apelam para um moralismo de costumes que só serve para o outro.

De forma vil atacam os direitos humanos e as diferenças, estimulados por uma ignorância, muitas vezes alimentada pelo ódio a si. Na adoração pela brutalidade, buscam alguém que possa despistar a própria natureza vil, fraca e insegura.  

Resumem ataques com aquilo que, retoricamente, é fácil de amparar-se, sem que se prove, debata e esclareça: corrupção, comunismo e costumes imorais.

Como é preciso sustentar escolhas, de forma abstrata e, muitas vezes truculenta, discursam pelo fim da violência e a resolução dos problemas econômicos, tendo como mote a histórica criminalização da pobreza. Falam de Estado mínimo, de empregos que o imaculado mercado tem a nos oferecer, como se nada do que aconteceu até aqui fosse oriundo da perversão do mercado e seus representantes.

Há também os encantados com o surgimento do nobilíssimo Partido Novo, que tenta emplacar aquilo que foi dito no primeiro parágrafo: uma fantasia de novo, que camufla um projeto mais velho que o tempo. Nele, embarcam eleitores deslumbrados com uma nova condição social ou uma elite atrasada que, incomodada com a ausência de bons costumes e virtuosidades do capitão, tentam diferenciar-se optando por João Amoedo.

Mas tudo funciona como uma troca de camisas da mesma cor, tamanho e grife, a não ser o modelo rajado do capitão, que destoa pela truculência, mas que, objetivamente, é a descrição plena e clara dos preconceitos e ignorância que perduram por aqui há muito tempo.

Aqueles que estão na contramão de tudo isso, não devem temer o embate, buscando soluções que fogem das afirmações propostas pelos anos de PT no governo.

Os que discursam pela necessidade de governabilidade, não devem esquecer que o antipetismo é somente um ponto de encontro dos que estão com alma adoecida, somado aos que não querem perder privilégios. Tudo não passa de um simbolismo, que pode ser transferido para qualquer um preze por um país justo e igualitário.
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Paulo Branco Filho é cronista e professor de artes marciais.

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