Rio, cidade submersa? Por Gilberto Palmares


E lá se vão 453 anos. 

Como seria bom comemorar esse aniversário com boas notícias. Mas como falar de flores com uma intervenção em nosso quintal? Como comemorar com leveza se a força bruta dos militares circula em nossos quintais? Se a sombra da ditadura volta a pairar sobre nossas cabeças? 

No seu aniversário, o Rio vive a exploração de quem usa uma de nossas principais mazelas, a insegurança, como instrumento político para o que consideram um “golpe de mestre” contra a baixa popularidade. Quatro séculos e meio depois de sua criação, a ex-Cidade Maravilhosa se vê sob o comando de alguém que desrespeita suas raízes e ainda ironiza suas tragédias.

Essa cidade vivida já passou por poucas e boas. O Rio de Janeiro tem história de luta, de resistência, sempre sob os olhos atentos do Brasil e do mundo. Perdeu a pose de capital da República sem perder a força de capital cultural, certamente não a única, mas uma das principais. O que acontece por aqui ecoa pelos quatro cantos.

O Rio já nos deu o samba, a bossa nova, o funk, a diversidade riquíssima das favelas, atos que marcaram o nosso tempo, como o comício das diretas. A cidade foi palco de resistência às privatizações, de revoltas populares, de grandes mobilizações. Sim, temos muito que contar. E era de se esperar que tudo isso construído ao longo do tempo em suas ruas e becos tivesse nos levado, 453 anos depois a, no mínimo, uma situação confortável. 

O Rio merece, com certeza, toda a nossa gratidão. Merece cuidado e seriedade para recuperar o brilho que parece perdido e as condições de vida digna que sua população tanto precisa. Que o aniversário nos renove a esperança. A cidade e todos nós precisamos.


Gilberto Palmares é Deputado Estadual e líder do PT na Alerj.

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