A reorganização do centro-conservador, a perseguição a Lula e as perspectivas do campo democrático-popular, por Daniel Samam

Publicado em minha coluna no Brasil 247.

Na minha avaliação de cenário - mero palpite de um interessado no tema -. Temer e Moreira Franco tentam, desde o decreto de intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, reorganizar o centro-conservador a partir da troca da pauta das reformas antipovo para um tema de forte apelo popular que é o da segurança pública, no intuito de repactuar com a Banca para dar continuidade à agenda neoliberal de desmonte do Estado e conquistar a maioria do Congresso nacional nas eleições de 7 de outubro.

Sobre a disputa presidencial, ao que parece, ainda não está claro como o MDB, que lidera o centro-conservador, irá se posicionar. Se seus principais articuladores, Temer e Moreira, vão conduzir o apoio do bloco a Alckmin (PSDB), Meirelles (PSD) – ambos bem quistos pela banca (capital financeiro), ou vão construir candidatura própria - por exemplo, com o próprio Temer como candidato. Nota-se que há uma grande fragmentação do lado de lá, pois nem mencionei as pré-candidaturas fracas de Álvaro Dias (Podemos) e de Rodrigo Maia (DEM). O meu palpite ainda é o tucano Alckmin como candidato do centro-conservador liderado pelo MDB de Temer e Moreira, derrotando o movimento do “novo na política” do FHC e da Globo, e da extrema-direita alucinada de Bolsonaro (PSL).

Sobre Lula, há quem faça a seguinte conjectura: o STF (leia-se Carmen Lúcia) vai esperar Lula ser preso pela “tigrada”(a turma do judiciário, MP e PF). Feito isso, o tema da prisão em segunda instância vai a plenário da corte, e a maioria dos ministros mudam de posição e retornam ao entendimento que prisão, só com o processo transitado em julgado, como determina a Constituição. Lula, então, poderá ser solto. Isto só reforça que a estratégia de Lula e do PT está correta: dobrar a aposta na candidatura de Lula até o limite.

Lula tem, segundo as últimas pesquisas (Datafolha, Vox Populi, Ipsos), em torno de 27% de eleitores fechados com ele. Preso ou livre. E é esse o capital que Lula tenta manter e, dentro do possível, ampliar. Se Lula for mesmo impedido de ser candidato e conseguir transferir 20% de seus votos para o(a) candidato(a) que ele escolher, este nome estará no segundo turno.

O cálculo da “tigrada” é que a prisão abala a imagem de Lula ao ponto de impedir sua transferência de votos para um eventual “plano B”. Na política, os mais inteligentes - Temer e Moreira - preferem Lula solto. O problema é que quem está com a batuta é a “tigrada”, e esses estão ensandecidos, completamente fora de controle. Essa é uma leitura. Fato é que os próceres da Lava-Jato e da Globo não vão recuar da tarefa de prender e humilhar Lula.

Nos últimos 30 anos, o campo democrático-popular apostou na luta institucional pela via eleitoral. Não quero e nem acho que este seja o momento de avaliar se esta estratégia foi certa ou errada. Fato é que o veio o golpe, a Constituição, bem como o pacto político e a ordem jurídica de 1988 desmoronaram.

Sabemos também que Lula e o PT são frutos do desejo por Democracia no Brasil. Talvez isso explique a crença de Lula no poder da negociação e nas instituições. E engana-se quem acha que ele vá operar fora dessa lógica. Portanto, camaradas, não há saída fora das eleições. Fomos empurrados novamente para a trincheira de defesa da institucionalidade, logo, da Democracia.

O acerto de contas com o golpe tem data marcada: nas eleições de 7 de outubro de 2018.

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