Feliz 2018! A tarefa da esquerda é derrotar o golpe. Unidade na Luta! Por Alipio Carmo

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Ontem, acompanhei pela rede uma série de postagens e comentários sobre a entrevista de Marcelo Freixo à Folha de São Paulo. Com raras exceções, a maioria das críticas chamava atenção para aspectos, ao meu ver, periféricos: a formulação da candidatura de Boulos no café da manhã, o teste com a equipe do gabinete, a articulação com Paula Lavigne, o papo em um boteco "vagaba" e a unidade identitária no campo da moralidade entre o psolista e Bolsonaro. Não tenho dúvidas que, por si só, esses elementos nos ajudam a entender a forma de atuação do deputado com o conjunto de forças políticas do PSOL, bem como, avaliar a compreensão que Marcelo tem de sua base social e quais as pautas a mobilizam.

Enquanto membro do Partido dos Trabalhadores e militante do campo da esquerda democrática brasileira, compreendo que devemos trazer para superfície aquilo que foi silenciado à Folha por Freixo e que é imprescindível para o futuro do Brasil: o combate ao golpe, aos ataques à Constituição de 88, às perdas de direitos da classe trabalhadora, ao crescimento da miséria no país e ao papel do judiciário e da corporações do setor de comunicação no desmonte do estado de direito.

Neste sentido, as declarações da maior figura pública do PSOL nos revelam mais o centro da tática eleitoral do que as particularidades de sua própria atuação partidária e parlamentar. Uma leitura mais atenta das perguntas do jornal e das respostas do deputado nos indicam de quais pressupostos ele parte para compor sua avaliação de conjuntura e formular que não é o momento da unidade das esquerdas.

1) Quando perguntado sobre quais os aprendizados com a sua derrota para Crivella em 2016, o deputado diz estar buscando fazer, mas transfere para a esquerda a responsabilidade de não ter entendido o debate da crise da representatividade, pautado nas manifestações de 2013 pelo conjunto da sociedade.

2 )Ao ser questionado sobre o surgimento da candidatura de Boulos à presidência, afirma que o debate, que tem feito sobre a tensão social e o medo da sociedade sobre as massas das periferias, o levou ao nome do líder do MTST. No café da manhã, ele conversa sobre a esquerda do Século XXI e tem sua primeira certeza sobre o nome do candidato.

3 ) A resposta mais reveladora se dá na pergunta sobre o PT e o PSDB terem fracassado no Rio de Janeiro. De forma hábil, justifica o fracasso petista pelo fato da legenda ter priorizado o projeto nacional, colocando o partido em âmbito estadual para cumprir a tarefa eleitoral de construir alianças locais para chegada de Lula ao governo. Em seguida, pauta o jornalista com a frase: " é difícil imaginar o que será dele ( PT) na hora em que o guarda chuva eleitoral do Lula fechar, e em algum momento ele vai. É ai que o pós-Lula vai se dar. Aliás, vai se dar mesmo se ele for eleito". Freixo defende a tese do surgimento de um novo clico para a esquerda brasileira.

4) Após ser pautado pelo psolista, o jornal pergunta como "seria o pós-Lula com Lula presidente". A resposta, um tanto truncada, começa por uma contradição com o próprio questionamento ( Pós-Lula com Lula presidente?), diz ele: "Se ele for impedido, o pós-Lula vai se dar. Se concorrer e perder... É o cenário ideal para direita". Ora bolas, a pergunta não foi essa. Após essas afirmações, ao invés de expressar seus desejos, finalmente, tenta responder efetivamente a questão : " Temos a chance de marcar a diferença com o Lulismo por meio de um programa".

5) A grande conclusão que Marcelo Freixo chega no bate papo com a Folha de São Paulo, e que serve de manchete, é de que não estamos num momento de unidade das esquerdas. Diz ele: " A gente vive um momento de reconstrução. Qual esquerda a sociedade vai enxergar? Porque precisa enxergar o diferente".

Como destaquei acima, a entrevista nos revela mais a tática eleitoral partidária do que suas particularidades como figura pública. Afinal de contas, quando Freixo fala que estamos em um momento de reconstrução, qual reconstrução seria essa? A retomada da democracia, da soberania nacional, do estado democrático de direito, de uma agenda de desenvolvimento para o país e dos direitos sociais? Ou, será que ele fala da reconstrução da esquerda no que ele chama de Pós-Lula? Marcelo Freixo e o PSOL precisam deixar isso claro para a população brasileira, para a esquerda e para o conjunto de forças progressistas.

Se falam da reconstrução da democracia, o primeiro ato é denunciar que eleição sem Lula é golpe, pois o impedimento da candidatura de Luis Inácio, que lidera todas as pesquisas no país, só se dará como mais uma etapa da desconstrução do estado democrático de direito perpetrada pela ditadura de toga e pelo ódio fomentado pela mídia com apoio do capital internacional.

Caso a reconstrução, de que falam, seja outra. Deverão assumir publicamente que sua tática eleitoral vê no golpe uma oportunidade para o crescimento eleitoral do PSOL no chamado ciclo que se abre, por eles cunhado de Pós-Lula. E que para isso, o fundamental não é criar uma unidade das esquerdas para a retomada da democracia e a derrota dos golpistas, mas que o foco é o Partido Socialismo e Liberdade ganhar musculatura para disputar a hegemonia do campo da esquerda no processo de avanço do golpe e do desmonte do país. Essa posição precisa ser assumida de forma clara e transparente, pois num futuro muito breve, a história julgará essa escolha.

Compreendo que a expressão Pós-Lula pode ter diversos significados. Mas só dois deles me parecem fazer sentido. O primeiro, seria o período após o individuo, Luis Inácio Lula da Silva, não participar mais da política brasileira. O outro, seria o início de um novo ciclo da esquerda brasileira com a superação do petismo e do lulismo.

Pois bem, aviso aos navegantes, que o papo do café da manhã, o teste no gabinete e aprovação da elite cultural burguesa não foram suficientes ainda para produzir uma candidatura do Pós-lula, seja qual for o significado dessa expressão. Pois partem de um erro de análise, o ciclo que foi encerrado não foi o do PT e o de Lula. O ciclo encerrado foi o da chamada Nova República. Filha das lutas contra a ditadura e batizada pela Constituição de 88, a Nova República morreu, em 2016, pelas mãos das forças reacionárias, conservadoras e de direita. Neste ciclo, é evidente que o Partido dos Trabalhadores foi a força gravitacional das organizações democráticas, progressistas e de esquerda. Mas o fim de uma não implica no término do papel do outro. O que está colocado é a necessidade de uma nova estratégia e me parece que esta é a luta pela retomada da democracia, a denúncia e a derrota do golpe.

O PSOL precisa entender de uma vez por todas que Lula livre ou preso,candidato ou não, vivo ou morto é a grande peça do tabuleiro eleitoral de 2018. Eles precisam ainda mais. Devem compreender que a superação do Lulismo só acontecerá com o aprofundamento do conjunto de transformações sociais iniciadas nos governos petistas.

Talvez tenham dificuldade de chegar a tal avaliação, pois não passam de uma dissidência parlamentar do PT. Sua vocação é a atuação institucional no campo legislativo. O partido não se constituiu como a síntese da pluralidade dos movimentos sociais de massa.

E não será o exercício retórico que tornará as manifestações de 2013 a base propulsora da síntese programática e legitimadora do PSOl. Não será a candidatura de Boulos que dará cara de povo ao partido e organicidade junto aos movimentos sociais.

Tampouco, será uma tática eleitoral oportunista, focada na equivocada análise do fim do ciclo de hegemonia do PT no campo progressista, que garantirá ao PSOL se tornar a maior força de esquerda, pois os milhares e as milhares de brasileiros e brasileiras não podem mais esperar. 2018 é decisivo para começarmos a mudar a correlação de forças para derrotar o golpe. O que está em jogo é a soberania nacional e a vida das pessoas.

Neste sentido, o papel do PT é jogar todo o peso para a aglutinação de forças políticas plurais numa ampla frente para derrotar o golpe que atravessamos. A candidatura de Lula perpassa, nesta perspectiva, suas condições reais e objetivas de sucesso nas urnas. Lula presidente 2018 é uma das principais bandeiras para enfrentar e denunciar o golpe jurídico, parlamentar e midiático que ceifa o futuro do Brasil.

Feliz 2018, firmes na luta pela reconstrução democrática.


Alipio Carmo é Jornalista e militante do Partido dos Trabalhadores (PT).

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