E de tanto falar em fascismo... Por Val Carvalho

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Há dois erros que vemos na definição de fascismo no Brasil atual. Um deles é dilui-lo no machismo, racismo e homofobia. Esses preconceitos e discriminações certamente que formam o caldo de cultura do fascismo, mas podem existir em regimes democráticos limitados, como sempre foi o caso do Brasil, inclusive na era Lula. Outro erro é ver o fascismo como algo sempre copiado da Europa ou dos Estados Unidos. O nazismo alemão e o fascismo italiano têm aspectos que podem ou não ser repetidos no momento atual.

O que importa saber é que o fascismo, enquanto alternativa de poder, subsiste na vida política de cada país capitalista como a erva daninha num jardim. Pode ou não se proliferar, pode ou não chegar ao poder. Vai depender de duas coisas interligadas: primeiro, da insegurança política das elites dominantes diante da crise do capitalismo e dos avanços dos trabalhadores. Segundo, do nível de organização e unidade dos trabalhadores para derrotar as investidas do fascismo.

Se as elites dominantes sentirem que estão perdendo o controle, apelam sem nenhum pudor para o movimento fascista, mesmo sabendo que é uma besta-fera difícil de dominar depois que toma o poder. O fascismo é a negação brutal das liberdades democráticas e dos direitos humanos. É um regime de terror policial aberto contra o povo e as esquerdas, e também contra todas as forças democráticas e nacionalistas.

Nos países dependentes do imperialismo, como os da América Latina, onde a massa popular está socialmente excluída, o fascismo geralmente assume a forma de ditadura militar, como foi a ditadura do AI-5 e a de Pinochet. São ditaduras à serviço do imperialismo e da concentração de renda, por isso muito difícil de contar com o apoio das massas excluídas. À exceção do peronismo, que era um regime anti-imperialista com traços fascistas, nenhum movimento fascista chegou ao poder na América Latina ou no Brasil por meio do voto. Plínio Salgado, líder do antigo Integralismo, até tentou nas eleições de 1955, mas conquistou apenas 8% dos votos.

O problema do fascismo é que, para dar certo, sem ser por via militar, precisa conquistar a hegemonia na sociedade. Mas esmagado pelas políticas antissociais do golpe, o povo recorre novamente a Lula como a única saída viável para o resgate de seus direitos e a reconquista da democracia.

De qualquer modo o troglodita Bolsonaro, um novo Plinio Salgado sem a cultura do original, pretende ganhar no voto. Numa eleição livre dificilmente ele ganharia de Lula. Então, seu desempenho vai depender da mão-grande de Moro para tirar Lula no tapetão. Ou seja: se confirma que pelo voto livre o fascismo não ganha eleição no Brasil.

Historicamente o Brasil reacionário sempre produziu um forte caldo de cultura do fascismo. Para a massa excluída das favelas e periferias, desde a chamada abolição da escravatura, nunca houve de fato direitos humanos, muito menos democracia. Com a conivência ou omissão covarde das classes médias, a massa de excluídos, em todas as épocas, sempre foi tratada com estado policial e extermínio da juventude negra. O preconceito e o racismo institucional, aliados ao machismo e à homofobia tradicionais, agora potencializados pelas igrejas fundamentalistas, engrossam ainda mais o caldo de cultura do fascismo caboclo.

O fascismo também se alimenta da ideologia reacionária que vê o povo excluído como bandido ou vagabundo e todos os políticos como corruptos. A Rede Globo se encarrega de divulgar isso para toda a sociedade e os programas de rádio e televisão massificam para os segmentos populares, apresentando como “única” solução, a pena de morte e a ação do policial justiceiro.

Se a isso juntarmos o ódio a Lula e ao PT de setores das classes médias, o fundamentalismo religioso e as ações provocativas do MBL estaremos diante do “caldo de cultura” da candidatura do fascista Bolsonaro.


Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) e lançou recentemente o livro "Couro curtido - Memórias de um militante comunista".

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