As vítimas da sociedade brasileira, por Mário Lima Jr.

Publicado no Jornal GGN.


Quando um jovem de 17 anos, de origem pobre, arranca do pescoço de uma senhora seu cordão folheado a ouro e a derruba no chão, qual é a maior vítima nessa história? O jovem pobre, cuja infração deve ser tratada de acordo com a Lei. A senhora é vítima, lamentável, do crime. Já a criança nascida na miséria, o negro e o índio são as principais vítimas da organização preconceituosa da sociedade brasileira.

Mais de 10 milhões de negros e índios, somados, foram assassinados desde o início do período colonial (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro). E o ataque racista continua: 71% das pessoas assassinadas no Brasil são negras. Cento e dezoito índios foram mortos em 2016, segundo levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). As consequências da exploração humana são tão graves que nos levam a preferir que não houvesse colonização, deixando o Brasil nas mãos do comunismo indígena.

Embora o massacre da escravidão tenha marcado o passado, vivemos em um país de cultura riquíssima e natureza exuberante. Gilberto Freyre escreveu, no capítulo III de Casa Grande & Senzala, que a escravidão foi uma ferramenta indispensável para a colonização portuguesa no Brasil diante do tamanho gigantesco e das adversidades do território contra a escassez de recursos humanos e materiais do colonizador (a afirmação sociológica de Freyre não significa aprovação pessoal do regime escravagista).

O sofrimento do brasileiro de hoje, causado pela pobreza, deve ser resolvido com honestidade política e cidadania. Uma estimativa do Banco Mundial aponta que 19,8 milhões de pessoas tentarão sobreviver com menos de R$ 140 por mês até o fim desse ano. Quase 20 milhões de brasileiros procurando o que comer todos os dias, logo ao acordar, grande parte deles formada por crianças e adolescentes.

Além da pobreza, a falta de segurança prejudica os menores de idade da cidade do Rio de Janeiro, ex-capital do Império. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, desde o início do ano letivo (2 de fevereiro) até o mês de setembro, 418 escolas fecharam na cidade por causa da violência e impediram o aprendizado de 150 mil estudantes (Agência Brasil).

Sabemos que evasão escolar e criminalidade na adolescência estão diretamente relacionadas. Para reduzir as chances de ser recrutada pelo crime, a juventude precisa estudar. Segundo uma pesquisa de 2015 encomendada pelo Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), para onde são levados os menores que cometem atos infracionais no Rio, 95% dos jovens internados não haviam concluído o Ensino Fundamental e nenhum deles completara o Ensino Médio. A responsabilidade sobre a formação dos jovens é nossa enquanto sociedade.

A influência do tráfico de drogas sobre crianças e adolescentes do estado fluminense se agravou tanto que, nas escolas localizadas em regiões dominadas por facções criminosas, bandidos decidem quais alunos serão matriculados baseados no endereço. Quem mora em comunidade pertencente a facções rivais não tem direito de estudar. Não é difícil encontrar o nome de facções pichado dentro das salas de aula.

Desconhecem o sentido do Brasil e a história da sua formação aqueles que propõem a redução da maioridade penal, o armamento da Guarda Municipal ou incentivam a posse de armas pela população. O ódio, que existe no país há tantos séculos, cria sociedades onde menores de idade assaltam idosos na rua. Distribuição de renda e desenvolvimento social recuperam.

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