Intervenção militar Constitucional, por Val Carvalho

Publicado em seu perfil no Facebook.


Virou moda no Brasil dar golpe travestido de legalidade. Foi assim no impeachment sem crime de responsabilidade, portanto inconstitucional, e é assim na defesa da tal intervenção militar constitucional. Mas vejamos esse argumento da boca de um militar, o general Mourão, conforme vídeo divulgado:

“Estamos numa situação de aproximações sucessivas até chegar um momento em que ou as instituições solucionam o problema político, retirando da vida pública esse elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”.

Se for para considerar o fundamento constitucional da intervenção militar, o Art. 142 determina que ela seja convocada para a “defesa da lei e da ordem” por um dos três poderes constituídos. Portanto, não é por iniciativa própria dos militares e muito menos para eles substituírem os referidos poderes.

Vejamos a realidade. O golpe de Estado contra a Constituição já foi dado em 2016. Foi um golpe parlamentar, com o apoio do Judiciário, sob a forma do impeachment sem crime de responsabilidade e comprado por grandes empresários. A Constituição de 88 já virou mera folha de papel. Nesse quadro, o argumento do Art. 142 não passaria de um teatro para esconder o “Ato Institucional” por trás dele, conforme o velho estilo da ditadura militar.

Obtida a unidade das Forças Armadas, a coisa mais fácil no Brasil de hoje é dar um golpe militar. Difícil será o que fazer com ele! Que política econômica adotaria esse novo poder constituído pela força militar? Pelo argumento do general Mourão a principal preocupação seria a de “retirar da vida pública” os supostos corruptos (como em 64). Isso sinaliza que o governo militar manteria a mesma política econômica atual, subordinada a Washington. Uma política rentista, privatista, entreguista e socialmente excludente. Assim, por exemplo, mesmo que essa hipotética ditadura militar quisesse retomar a Política de Defesa Estratégica dos governos do PT, os Estados Unidos não permitiriam.

Desse modo, seria inevitável que o golpe militar não conseguisse superar a crise econômica e contribuísse para aprofundar ainda mais a instabilidade política e social do país. E, como em toda ditadura, a corrupção das elites continuaria solta, mas estaria protegida pela censura e a repressão militar e não apenas pelo STF, como ocorre agora.


Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT).

Nenhum comentário: