Quatro pitacos sobre a polêmica do carnaval, a disputa no campo de costumes e o papel do capital, por Daniel Samam

1) O prefeito almofadinha e higienista de São Paulo, João Doria (PSDB), sancionou sem vetos a anistia de IPTU e multas a todas as igrejas do município de SP. E aí, amiguinhos da "jihad" (guerra santa) à brasileira, vão chamar o almofadinha de fundamentalista também? Aprendam, a bancada cristã, de católicos e evangélicos, caminha de mãos dadas quando o assunto é parasitar os recursos do Estado.

2) O Dória também pretende privatizar o sambódromo do Anhembi até 2019. Me referi ao Dória anteriormente pois ele é o modelo para o mandato do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB). É o modelo da gestão não-política que acredita que o capital privado e o mercado resolvem todos os problemas da sociedade.

3) Numa sociedade bombardeada e lobotomizada pelos falsos encantos do capital, quando um prefeito se propõe a tirar o investimento público de uma manifestação cultural que é muito rentável e atrativa, ele permite a entrada de novos investidores para disputar essa "mina de ouro". Em suma, a intenção de reduzir o investimento no carnaval, em SP ou no RJ, é apenas de mercado, é comercial. A intenção de destruir a cultura do carnaval é exclusiva do capital, quando este a transforma em mero produto de entretenimento a ser consumido.

4) Aqui no Rio, a esquerda apela para o discurso moralista do campo dos costumes, da "jihad" (guerra santa) à brasileira, para rebater tal movimentação de Crivella, que parece ser uma besta, mas não tanto. Ao meu ver, quando ele anuncia a redução de verba do carnaval, ele ataca em duas frentes: a) reabre a negociação para novos investidores, tirando os atuais da zona de conforto, inclusive a Rede Globo; b) por outro lado, ele joga bem com o discurso moralista da nossa classe média. Um exemplo, eu ouvi nessa semana na Rádio Kiss FM Rio, uma rádio de rock n' roll, o apresentador apoiando abertamente a iniciativa do Crivella, dizendo que "o carnaval não pode ter mais vantagens que outras manifestações culturais, porque nem todo mundo gosta de carnaval", etc. Ou seja, com esse movimento, Crivella mexe com toda a sociedade, com todos os nichos e tribos. Não é uma exclusiva movimentação do "projeto de poder fundamentalista da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus)". Para os que não gostam de carnaval, por qualquer que seja o motivo, apoiar a iniciativa de Crivella é natural. Nos falta propositividade e isso é preocupante.

Abraços,
Daniel Samam 

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