Sobre o PT, a JBS/Friboi e o capitalismo brasileiro, por Pedro Fassoni Arruda

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1. É verdade que os negócios da JBS/Friboi expandiram-se rapidamente durante os governos petistas? Sim, o faturamento da empresa aumentou mais de 1000% no período.

2. O crescimento da empresa contou com generosos estímulos dos governos petistas, via empréstimos do BNDES? Sim, é verdade. Foram mais de R$ 8 bilhões a partir de 2007.

3. Tais empréstimos são ilegais? Não. O banco público empresta, depois a empresa paga a dívida com juros e correções. O BNDES também emprestou dinheiro para diversas empresas durante os governos FHC, incluindo bancos, indústrias, mineradoras, companhias de transporte e empresas de comunicação.

4. Por que Lula e Dilma apostaram no fortalecimento de algumas empresas? Porque o PT, sendo um partido reformista, apostou (e ainda aposta) no desenvolvimento do chamado "capitalismo nacional". A estratégia do partido não era segredo pra ninguém: aliar-se à burguesia brasileira (agronegócio, indústrias e bancos), garantir o crescimento econômico e implantar algumas políticas distributivas que fossem capazes de reduzir a pobreza e promover a inclusão das camadas mais pobres no consumo de bens duráveis.

5. Lula e Dilma cometeram algum crime, ao utilizarem dinheiro público para financiar a expansão dos negócios da JBS? Em tese, a operação foi absolutamente legal. Numa sociedade capitalista, é comum que governos defendam os interesses das empresas. O ex-primeiro ministro britânico Tony Blair virou lobista das empresas de armamentos, ajudando a expandir as exportações do Reino Unido. Conglomerados sul-coreanos, como Kia, Hyundai e Samsumg, foram beneficiados por políticas desenvolvimentistas. O mesmo aconteceu no Japão, com Sony, Toyota, Honda e muitas outras empresas que se tornaram "global players" como a JBS. Barack Obama socorreu a General Motors e diversas outras empresas durante a crise de 2008.

6. Essas relações do governo com empresas privadas merecem ser criticadas? Sim. Para quem analisa a política sob a ótica marxista, não há como ignorar a célebre frase do Manifesto do Partido Comunista: o Estado é o "comitê executivo" que administra os interesses da burguesia. Os governos petistas não fugiram a essa regra. Acreditaram na possibilidade de promover um desenvolvimento capitalista em bases autônomas, conferindo-lhe uma feição "mais humana", por assim dizer. Apostaram, tal como João Goulart, na possibilidade de contar com o apoio da burguesia... e assim como em 1964, puderam constatar que a burguesia brasileira não é "nacional" nem "progressista": se tiver que sacrificar os interesses da nação pra preservar os seus privilégios de classe, a burguesia trairá até mesmo o governo que buscou lhe agradar.

7. Como "defender" então os governos do PT? Ora, não se trata de defender o legado político de Lula e Dilma. Eles merecem ser criticados, sobretudo por tudo o que não fizeram: não fizeram a reforma agrária, nem confrontaram os interesses do agronegócio. Não tentaram regulamentar os meios de comunicação. Não questionaram a financeirização da economia, submetendo a política econômica à hegemonia do capital financeiro. Não promoveram a reforma tributária. Não exigiram auditoria da dívida. Também defenderam reformas da previdência e ajustes fiscais etc. Resumindo: não realizaram reformas estruturais, mantendo intactas as bases do poder das velhas classes dominantes.

8. No entanto, devemos resistir à tentação de judicializar a política. A crítica aos governos do PT deve ser política. Não podemos admitir que adversários políticos, travestidos de juízes e promotores, se sobreponham ao veredito do povo. Provas forjadas, condenações com base em convicções, entre outras arbitrariedades, estão sendo utilizadas para derrotar um projeto que, apesar de limitado e passível de muitas críticas, conseguiu se impor por meio de eleições livres e diretas.

9. A saída é pela esquerda.


Pedro Fassoni Arruda é Bacharel em Direito, Mestre em Ciências Sociais pela UNESP - Universidade Estadual Paulista, Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP e é professor de ciência política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP.

Um comentário:

  1. Este senhor só fala nos empréstimos realizados ao grupo JBS, não sabe ele se as empresas tinham capacidade de pagamento para esse montante emprestado. Também não fala das propinas pagas pelo grupo JBS a políticos e partidos políticos, inclusive ao PT.

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