Precisamos falar sobre Renan Calheiros, por José Luis Fevereiro

Publicado originalmente na página de José Luis Fevereiro.

Prossegue a guerra civil na direita brasileira entre aqueles que querem se livrar rapidamente de Temer para o substituir por um presidente biônico, eleito por este Congresso travestido em Colégio Eleitoral, com o objetivo de concluir o desmonte do capitulo de direitos e garantias sociais da Constituição de 1988, e aqueles outros que, mais preocupados em fugir da polícia, Temer liderando, preferem manter o morto-vivo no Palácio do Planalto.

A linha de confrontação com ambos os grupos é a defesa de eleições em 2017, recuperando a velha bandeira da luta contra a ditadura, “Diretas Já”. Em 1984 uma ampla frente politica e partidária se formou em torno desta ideia. Governadores dos estados mais importantes como S. Paulo, Rio e Minas, junto com partidos de esquerda, liberais, conservadores, sindicalistas, artistas, gente de todos os quadrantes foram as ruas por em apoio á emenda Dante de Oliveira. Mesmo com toda a mobilização fomos derrotados, faltando 25 votos na câmara dos deputados para a sua aprovação. Enfrentávamos uma ditadura, que cuidava de sair de cena o mais protegida possível e operou contra as eleições diretas com amplo midiático. Na época a indefectível TV Globo anunciou o enorme comício por Diretas Já como um show de musica que ocorria na cidade.

Agora em 2017 a direita foge das urnas como o diabo foge da cruz. Sabe que o seu programa não passa em eleições e, por absoluta falta de imaginação, repete os argumentos da ditadura em 1984.”Diretas já, é golpe” bradava Paulo Maluf , candidato da ditadura em 1984.Tenho escutado o mesmo de “analistas” políticos ouvidos no noticiário. Agora há pouco no programa do William Wack lá estava Bolivar Lamonier dizendo que essa era uma saída populista. Jornalistas da Globonews ao cobrirem as manifestações de hoje pedindo diretas já, anunciam que “isto não é possível”. Se escudam na Constituição como se esta só pudesse ser alterada para retirar direitos sociais, e fosse imutável para sonegar ao povo o direito de dar a sua saída para a crise politica e econômica.

A frente que devemos construir nas ruas por diretas já deve ser com todos que vierem a ela. Hoje na Folha de SP tem uma nota informando que Paulinho da Força convidou Renan Calheiros para o ato da Força Sindical em Brasília dia 24 contra as reformas. Se Paulinho da Força e Renan Calheiros se somarem á luta pelas Diretas Já devem ser bem recebidos. Se parlamentares da bancada golpista se somarem á defesa das Diretas Já, devem ser bem recebidos. Não estão em jogo alianças eleitorais nem projetos em comum, mas simplesmente devolver ao povo aquilo que lhe pertence: o direito de escolher seus governantes. A emenda constitucional do momento é a de Miro Teixeira, garantindo eleições em 2017. Em torno desta emenda quem chegar é bem vindo.

Se todos não entendermos isso, não teremos a menor chance.


José Luis Fevereiro é economista e membro da direção nacional do PSOL.

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