Lava Jato e o silêncio dos inocentes, por Matheus Lobo Pismel

Primeiro o impeachment. Agora a Lava Jato e o avanço do Estado policial. Novamente a “esquerda não-petista” cai em desconforto profundo. Motivos não faltam. Primeiro, ninguém queria defender um governo desastroso. Agora, ninguém quer fortalecer Lula (o favorito eleitoral) e reciclar um projeto que já mostrou seus limites.

Tudo isso tem fundamento. No entanto, o desenrolar dos acontecimentos, após um ano de governo Temer, não poderia dar margens para vacilações. Boa parte da “esquerda não-petista” reviu suas posições e passou a engrossar organicamente a luta contra o golpismo, em diversos cenários de unidade (como há muito não se via). Afinal, parece ter ficado claro que não se tratava de um golpe contra o governo petista, mas contra o povo brasileiro.

Por que a vacilação, então, no enfrentamento direto a um dos pilares da operação política do golpismo, a Operação Lava Jato? Resta dúvidas de que a Lava Jato, na dobradinha com a Rede Globo, foi (e segue sendo) tática fundamental daqueles que entregam a nação? E de que a perseguição a Lula mira, muito além do petismo, todas nossas organizações democráticas e populares?

Mais do que cometer excessos ou ser seletiva, a Operação Lava Jato não pode ser dissociada da carruagem golpista e da eterna postura autoritária de nossas elites, que desprezam profundamente o povo brasileiro. A Lava Jato é inimiga de Lula e do petismo, e de toda a nação! O depoimento do ex-presidente a Moro, amanhã, em Curitiba, é até agora o ponto mais alto da operação. Ir às ruas da assim chamada “República de Curitiba” para combater a Lava Jato é sim enfrentar o golpismo e o Estado de Exceção. Terá a mobilização caráter eleitoreiro para Lula? É evidente que sim.

Mas, neste cenário crucial de nossa história, de incerteza sobre a própria realização de eleições em 2018, não há brecha para hesitação e nem para confortáveis silêncios inocentes. Respirar fundo e engolir seco. Derrotar a Lava Jato para derrotar os golpistas. Retomar a democracia para recuperar e ampliar nossos direitos.


Matheus Lobo Pismel é jornalista, mestrando em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e militante das Brigadas Populares.

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