Sobre a disputa do monopólio da bandeira do combate à corrupção

Dando sequência a um debate que vem sendo travado há décadas e tem se intensificado desde o advento da famigerada "Operação Lava Jato", que resultou em um golpe de Estado e na mais grave crise política, institucional e econômica da história do Brasil, penso que a bandeira do combate à corrupção não deve ser disputada com a direita.

A corrupção deve ser denunciada e combatida com eficácia e, sobretudo, dentro dos parâmetros do Estado Democrático de Direito. A bandeira do combate à corrupção não deve servir para o surgimento de mais um salvador da pátria ou messias (Jânio Quadros, Fernando Collor), e nem para a destruição de reputações de figuras políticas populares e progressistas (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Lula e Dilma). 

Nós devemos nos esforçar ao máximo para expor as diferenças nas "10 medidas contra a corrupção": algumas podem até ser interessantes, outras atentam gravemente contra a democracia.

A punição de poderosos decorre de um processo que não começou com a Lava Jato. Aqui, a História se faz decisiva e de suma importância: muitos afirmam que as CPIs sempre acabam em pizza. De fato, elas quase nunca puniram corruptos, mas foram as CPIs, instaladas desde o fim da ditadura, que sugeriram medidas que, depois, implantadas em outros momentos, deram os primeiros resultados. 

A exaltação em torno do tema do combate à corrupção mascara a percepção de problemas complexos, como o da desigualdade social ou os de natureza econômica. Apenas para dar um exemplo, muitos acreditam que a crise econômica do Estado do Rio de Janeiro decorre, única e exclusivamente, dos desvios praticados pelo ex-governador Sérgio Cabral.

Fazer esse tipo de crítica não implica em defender corruptos. Quando critico o emprego exagerado das prisões preventivas, não penso apenas no Cunha, Cabral, Garotinho e outros tantos, mas nos milhares de brasileiros e brasileiras que aguardam julgamento nas cadeias, numa espécie de antecipação indevida da pena ocasionada pela resistência cultural dos juízes contra as medidas cautelares.

Concluindo, o uso político-eleitoral do combate à corrupção é uma bandeira exclusiva da direita. A esquerda, obviamente, deve abordar o tema, mas de maneira crítica.

Abraços,
Daniel Samam

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