Apenas uma contribuição, por Paulo Frateschi


Nossa grande tarefa é fazer oposição ao governo Temer, é defender Lula e o PT e, ainda, preparar a campanha de 2018. Daqui pra frente precisamos agir como a grande força política de esquerda que agora está na oposição.

Não se faz oposição a um governo golpista de direita com cacoetes de situação e com o sentimento da má consciência. A chance de fortalecimento do nosso projeto político começa com a constatação que fomos derrotados por um golpe – vítimas de uma violência reacionária, antidemocrática e ditatorial, pois chegou e exerce o poder sem respeitar a constituição.

Nosso projeto democrático e popular mostrou ser de grande apelo e aceitação junto aos trabalhadores e ao povo pobre quando fomos oposição e também quando governamos o Brasil.

Soubemos ser oposição aos liberais tucanos e realizamos um grande governo que mudou o país nos últimos 12 anos. As forças neoliberais nacionais e internacionais entenderam que não nos derrotariam na urnas. Por isso o golpe. Se você, companheiro, quer fazer agora uma pausa para refletir sobre nossos erros fique a vontade. Se quiser ainda manifestar a nação brasileira um pedido de desculpas que o faça por conta própria, pois o PT vai corrigir seu rumo na prática como fez ao proibir contribuições financeiras de pessoas jurídicas antes de qualquer decisão judicial, pois reconheceu na prática que o problema residia na forma de financiamento eleitoral e partidário. Auto-crítica se faz na prática. 

Refletir sobre nossas ações é obrigação para corrigir nossos rumos, nunca para nos tornarmos palatáveis aos nossos inimigos de classe.

A história recente do Brasil foi marcada por uma grande disputa entre dois projetos: o neoliberal versus o democrático e popular. Dar continuidade a esta disputa deve ser o nosso norte estratégico. Nos próximos dois anos, o nosso centro tático deve ser a radicalização da nossa construção oposicionista. A defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores e a garantia dos interesses nacionais devem balizar a formação de uma nova frente para retornar ao processo de mudanças iniciadas no Governo Lula.

Faremos oposição para voltar ao governo em 2018. A definição tática há de ser materializada na disputa constante nas ruas e nas instituições.

Nós petistas precisamos recuperar de imediato as deliberações do congresso e a resolução do Rio de Janeiro do diretório nacional. Não estamos partindo do nada.

O PT não deixou de produzir durante a maior crise política que o Brasil viveu depois da ditadura. E este acúmulo deve ser a base do nosso programa de oposição que se tornará em um fortalecido programa democrático e popular com horizonte mais nitidamente socialista.

Temos um grande acúmulo e um grande legado a defender.

O V congresso de 2015 aconteceu logo após a grande vitória da reeleição de Dilma, que iniciava seu segundo mandato adotando medidas que contrariavam seu programa eleitoral, desagradava o seu partido e afastava nossa base social. Com a participação de 800 delegadas e delegados, eleitos na base, aprovaram a Carta de Salvador que confirmou a confiança no Governo e apresentou uma análise das dificuldades impostas pela conjuntura e ainda elencou propostas para superá-las. A Carta de Salvador defendeu que deveríamos avançar para reformas estruturais de base para superar a crise.

Hoje, inexplicavelmente, ignoramos o grande esforço do V congresso. Se o PT descartar sua própria história terá mais dificuldades para avançar.

Em fevereiro de 2016 o PT apresentou ao Governo Dilma um "Programa Nacional de Emergência". O golpe já estava em andamento avançado, o Partido não concordava com as decisões do governo e não podia radicalizar nas críticas e tampouco romper politicamente para acelerar a "Extrema Unção". Por isso, "oferecemos" ao governo algumas medidas na busca de contribuir para uma política avançada de enfrentamento dos graves e urgentes problemas.

Agora, após seis meses do golpe confirmado, estas propostas devem se transformar em bandeiras de oposição. Começamos com a luta democrática contra o golpe e a negação da legitimidade do governo Temer. Em seguida contra a PEC 241 e já engatamos com a luta contra a reforma da previdência.

Se a Frente Brasil Popular tem experimentado um crescimento significativo na coordenação dos movimentos pela defesa dos direitos sociais, o PT deve estar presente para se colocar como referência partidária para esses movimentos que pretendemos historicamente representar.

Se o movimento sindical e a CUT estão se mobilizando na perspectiva de realização de uma grande greve geral, o PT não pode vacilar no apoio político para canalizar esta energia em ações
institucionais e impor derrotas a esse governo golpista.

Se a esquerda brasileira, com seus variados matizes, a cada dia se convence mais da necessidade da construção de uma frente mais ampla para combater a direita e construir um projeto de unidade para o próximo período, o PT precisa se apresentar disposto a realizar este sonho tão importante para os trabalhadores do Brasil e da América Latina.

Tudo indica que "Poliana" não será delegada ao VI Congresso. Entretanto devemos evitar a postura salvacionista que, impactada com nossa derrota, acredita que uma vanguarda preparada e esclarecida será capaz de iluminar os nossos caminhos para redenção.

Nossa vida será dura no próximo período. Muita mobilização, muita luta, muita organização, muita produção teórica e muito diálogo com o povo. O nosso caminho não tem atalhos. A saída é seguir em frente.

Este golpe não marcou o fim da história. Os trabalhadores vão avançar nas sua lutas e nossos adversários carregam contradições que o neoliberalismo e a política antipopular não vão resolver. Vamos explorá-las para acelerar suas divisões políticas, econômicas e sociais.

A política está viva e exige atitude de combate.

O PT não pode se transformar em uma banca de doutorado e tampouco num colegiado de notáveis comentaristas da luta de classes.

Rumo ao VI Congresso com participação da base!

Paulo Frateschi é dirigente do Partido dos Trabalhadores.

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