Pitacos sobre a carta "Compromisso com o Rio", de Marcelo Freixo

Marcelo Freixo (PSOL) divulgou hoje (24) um documento intitulado "Compromisso com o Rio". No texto, Freixo se compromete a garantir o "equilíbrio do orçamento", a dialogar com os governos estadual e federal, além da Câmara de Vereadores e a respeitar os contratos em situação regular.

Com a iniciativa, Freixo tenta responder às críticas de seus adversários, que consideram a pauta do PSOL "radical" demais para administrar a prefeitura do Rio de Janeiro.

Assim como Lula em 2002 teve de fazer sua "Carta ao Povo brasileiro", para se livrar da imagem de radical, Freixo faz um movimento parecido. Mas sua coordenação de campanha e seu partido não gostam muito da comparação.

Eis a íntegra do documento:

Compromisso com o Rio

"Não é simples mudar. Toda mudança é complexa e trabalhosa. Especialmente quando envolve o enfrentamento da desigualdade e de interesses poderosos. Por muito tempo, nós nos acostumamos com os contrastes do Rio de Janeiro e com a incapacidade do poder público de resolvê-los.
Este compromisso é também um desafio e um convite. Um acordo firmado com todos os cariocas que, como nós, desejam a mudança. Mudança com coragem, dedicação e responsabilidade.
Eu, Marcelo Ribeiro Freixo, comprometo-me a, caso eleito prefeito do Rio de Janeiro no pleito de 2016:
1. Montar um secretariado inteiramente formado por técnicos com comprovado conhecimento. Integrado, de forma equilibrada, por mulheres e homens. Nenhum secretário será nomeado por indicação de partido político. 
2. Ter como prioridade a redução o custo de vida e a melhoria dos serviços públicos. 
3. Garantir o equilíbrio do orçamento municipal, aumentando investimentos com a redução de gastos com custeio e cargos comissionados. 
4. Revisar e tornar públicos todos os contratos da Prefeitura. 
5. Respeitar os contratos em situação regular. E investigar o que estiver sob
suspeita. 
6. Atuar de forma ética e equilibrada junto ao setor privado, garantindo a independência da Prefeitura e o crescimento econômico. 
7. Dialogar com o governo estadual, a União e a Câmara de Vereadores, priorizando os interesses da população do Rio de Janeiro". 
A seguir, coloco alguns pitacos sobre a carta aos cariocas de Freixo.

Para mim, os pontos 1, 3, 5 e 6 são os que devem gerar maior crise em alguns setores da esquerda, não apenas do PSOL. A meu ver, os mais complicados são os itens 1 e 3. O item 1 dialoga com o senso comum, o que é importante, mas reforça a narrativa tecnocrata de que o problema é de gestão e de que a política é o problema.

O 3 é muito ruim por estarmos em tempos de ajuste fiscal, PEC 241, etc. Enfim, não é para criar mais crise interna por isso. Sabemos pra quem ele está sinalizando e que, pra vencer, isso tem que acontecer. Só acho q nem toda a esquerda entenderá assim (vamos aguardar notas de repúdio durante a semana da corrente interna do PSOL, a CST, do PSTU e, quem sabe, até do aliado de chapa, o PCB). 

Os itens 3, 5 e 6 dizem respeito à gestão do fundo público. Ali tá o nó da finança e da disputa com e da burguesia. Obviamente que o item 1 é despolitizante. Mas a luta concreta está nos itens 3, 5 e 6. O item 1 é ruim, mas convenhamos, dialoga com os setores que a gente precisa conquistar se quisermos mesmo ganhar o pleito. Até porque, não vamos resolver o problema da criminalização da política apenas no debate do segundo turno da eleição.

Caso a esquerda logre vitória no próximo domingo, dia 30 de outubro, devemos acompanhar o futuro governo Freixo com atenção, pressionando que esses pontos da carta (1, 3, 5 e 6) não sejam utilizados pra isolá-lo do povo e que, portanto, acabem inviabilizando seu governo.

Se Freixo tivesse disputando pra não ganhar, não deveria fazer esse discurso. Aí, ele deveria partir pra disputa ideológica, demarcar posição e pronto. Mas a disputa e a chance de vitória são reais e palpáveis, Freixo deve sinalizar sim ao centro e até pra setores da direita, sem que o governo perca de vista a tarefa de pautar a centralidade da política em suas ações. O desafio é: como fazer isso com uma contra-narrativa imposta pelos meios de comunicação, encabeçados pela Rede Globo, sem maioria na Câmara e com os pontos 3, 5 e 6 engessando o orçamento público?

Como diria o grande Lenin, "fora o poder, tudo é ilusão". Vamos nos concentrar em ganhar esse pleito e eleger Marcelo Freixo prefeito do Rio, camaradas! A reorganização das tropas para lidar com os "efeitos colaterais" a gente deixa para a partir do dia 31 de outubro.

#ÉPossível #Freixo50

Abraços, 
Daniel Samam

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