O papel da modéstia, por Breno Altman

Segue mais um texto brilhante desse combativo e querido camarada, Breno Altman. Faço minha cada palavra escrita por ele. Leiam, releiam, reflitam. Vale muito.


"O PT, partido do qual sou honradamente filiado desde 1986, comandou o governo da República por treze anos.

Durante esse tempo, a classe trabalhadora, especialmente os mais pobres da cidade e do campo, melhorou seu padrão de vida provavelmente como em nenhum outro período de nossa história.

Mas a verdade é que não fomos capazes de enfrentar a ofensiva conservadora que, pela via golpista, restituiu a direção do Estado para as velhas oligarquias.

A burguesia se lançou ao combate contra nós pelos acertos que produzimos, pois seu objetivo é arrochar salários e direitos para relançar a acumulação capitalista.

Mas foram erros fundamentalmente nossos, com suas consequentes vulnerabilidades, que permitiram a vitória, ainda que momentânea, desta ofensiva.

Por essa razão, temos que ser, mais que nunca, bastante modestos na relação com as demais forças e militantes progressistas.

Temos que ser modestos porque a autocrítica é o único método para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Temos que ser modestos por que esse comportamento é decisivo para enfrentar o sectarismo.

Temos que ser modestos porque ouvir os demais com atenção e generosidade ajudará a retificar nossos erros.

Temos que ser modestos sabendo que isso não significa abrir mão de nosso legado e de nossas posições. Ao contrário: a modéstia nos dá melhores condições para manter alta a bandeira com a estrela vermelha, muito mais que a arrogância e o patriotismo de partido.

Temos que ser modestos mesmo quando outras forças de esquerda desprezam esse valor e imaginam que os ataques inimigos ao PT tenham outra razão que não o combate geral à classe trabalhadora e o conjunto da esquerda.

Temos que ser modestos porque somos o principal partido do povo brasileiro e nossa responsabilidade histórica exige a modéstia como um dos ingredientes para reconstruir a unidade e o protagonismo do campo popular.

Sempre temos que ser modestos, na vitória ou na derrota, como tão bem nos ensinou Ho Chi Minh, o líder da revolução vietnamita, porque somente se constrói respeito político com generosidade, tolerância e espirito unitário.

Não precisamos de sectarismo, de arrogância ou de hipérboles sobre os feitos de nossos governos para fazer o bom debate.

Firmeza e modéstia, afinal, não são valores conflitantes."

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