O GOVERNO ATRAVESSOU O RUBICÃO?


Sobre a tal reforma ministerial, alguns jornalistas da blogosfera insistem que com essa "dança das cadeiras' nos ministérios, principalmente com a Saúde, o governo atravessa o "rubicão". Ou seja, rechaça o impeachment por completo. Certo, pode até ser que sim. O ex-presidente Lula disse que "é melhor perder ministérios do que a presidência". Ok, mas a que preço? Digo isso porque a relação com o PMDB - que fique claro que não é com todo o PMDB, mas a pior ala deste, capitaneada por Temer e Cunha - é muito complexa, pois se paga e não se recebe nada em troca. Por isso não tenho o que dizer quando vejo as pessoas dizendo que o governo é de fato do PMDB. Complicado.

Sobre a possível nomeação de Manoel Júnior (PMDB-PB) para o Ministério da Saúde - uma outra alternativa seria o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) - se aprofunda o caráter de rendição do governo Dilma II. Numa boa, se a imprensa resolver investigar um pouquinho que seja sobre esse Manoel Júnior, ela "frita" esse cidadão e em 15 dias ele cai. O cara é fiel escudeiro de Cunha e, segundo consta, é um picareta da pior estirpe. Ainda mais com a Saúde, que corresponde a um dos mais graves dramas da sociedade brasileira e tem uma crise de financiamento alarmante.

Mesmo com todos os problemas, a pasta da Saúde estava sob comando de uma pessoa qualificada que é o Arthur Chioro, sanitarista e militante da saúde pública (vide as inúmeras notas públicas e manifestos publicados por diversas entidades e organizações de saúde em defesa de Chioro).

Concluindo, deixo claro que sou a favor de alianças - inclusive com o centro-conservador - ainda mais num país heterogêneo como o Brasil, onde um partido necessita de compor alianças para implantar seu programa. Mas, obviamente, sem renunciar a disputa de hegemonia (disputa no campo dos valores, das ideias, etc.). Isso acaba sendo um dos principais erros do PT, que é não conseguir dispor corretamente a relação entre hegemonia e aliança.

Sei que com esse texto posso incomodar alguns camaradas, mas é a avaliação que faço da atual conjuntura. Votei e defendo o cumprimento do mandato de Dilma, mas discordo completamente dos rumos do governo. Defendo uma mudança completa e há propostas já apresentadas para isso. Mas resta saber se há equipe, coragem e vontade política para tal.

Tá difícil.
Abraços, 
Daniel Samam

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