A emenda saiu pior que o soneto: sobre a votação do aumento do IPTU no Rio e as disputas fratricidas no campo da esquerda, por Daniel Samam


Um meme produzido pela comunicação do mandato do vereador Tarcísio Motta (PSOL-RJ) sobre a votação do Projeto de Lei (PL), de autoria do alcaide Marcelo Crivella (PRB), que alterou os valores do IPTU em nossa cidade, foi postado originalmente em sua página no Facebook (postagem no link: https://goo.gl/s4ciYb). Tratava-se do conhecido panfleto eletrônico com a imagem das vereadoras e vereadores que votaram contra ou a favor de um determinado tema. Dizia o texto: "Veja quem votou CONTRA a proposta do PSOL de cobrar mais de quem tem mais e menos de quem tem menos". Estava lançada a "manchete". Tarcísio e sua equipe, colocaram as fotografias dos vereadores que não foram favoráveis à proposta do PSOL carioca. Entre as fotos, estava a imagem dos vereadores do PT carioca, Luciana Novaes e Reimont.

Realmente, os vereadores do PT votaram contra a emenda apresentada pelo Vereador Tarcisio Motta. E não tinha como ser diferente, pois desde o início, Reimont e Luciana deixaram claro que votariam contra o projeto de Crivella, que o PT não apresentaria emendas e que votariam contra quaisquer emendas apresentadas por quaisquer vereadoras e vereadores, porque, se admitidas, no nosso entendimento, apenas serviriam para dar credibilidade e sustentação à proposta do alcaide, cujo cerne do projeto é cobrar mais dos que têm menos e cobrar menos dos que têm mais. Ou seja, algo que nenhuma emenda seria capaz de alterar.

O post do parlamentar do PSOL carioca foi idêntico a manchete do jornal O Globo de ontem (6), que apelou para a descontextualização ao publicar em sua primeira página uma manipulação criminosa, onde o panfleto dos Marinho combinou a manchete, que noticiava a denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, contra Lula, Dilma e o PT, com a foto das malas e caixas com R$ 51 milhões, apreendidas pela Polícia Federal (PF) no apartamento atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira de Lima (PMDB-BA). 

Tarcísio se valeu do mesmo recurso da descontextualização. Sua publicação omite intencionalmente a informação de que Reimont e Luciana Novaes votaram NÃO ao PL de aumento do IPTU do alcaide Crivella e que, ao longo dos últimos dias, seja na tribuna da Câmara ou nas redes sociais, deixaram claro que o Partido dos Trabalhadores não apresentaria emendas ao projeto, não votaria a contra o PL e de nenhuma emenda proposta pelos demais vereadores. Reimont e Luciana defendiam que qualquer mudança na cobrança do IPTU deveria ser debatida amplamente com a população e que isso precisaria de mais tempo de debate. Reimont, inclusive, sinalizou que a solução do IPTU de maneira imediata passaria pela cobrança dos maiores devedores de IPTU no município do Rio que, segundo a Coordenadoria de Auditoria e Desenvolvimento, durante inspeção em 2015, registrou uma dívida de IPTU de R$ 4,2 bilhões dos 15 maiores sonegadores, que são os espólios de Abílio Soares de Souza e de Pasquale Mauro, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Dataprev e a Construtora Carvalho Hosken, entre outros. No entanto, tudo isso foi ignorado por Tarcísio e sua equipe ao tratarem os diferentes de maneira igual, ao colocar Reimont e Luciana Novaes no mesmo balaio que os parlamentares da base de apoio de Crivella. 

Historiador que é, Tarcísio sabe que não tem o direito de descontextualizar. Mas o fez, quem sabe, à serviço de uma disputa partidária mesquinha ou apenas para angariar mais votos na próxima eleição.

E pra deixar tudo às claras, eu, Daniel Samam, sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, coordenador de núcleo e dirigente zonal do partido e faço parte da assessoria no mandato militante do Vereador Reimont, do qual tenho muito orgulho de participar e ajudar a construir.

Alguns setores e correntes internas do PSOL precisam entender de uma vez por todas que não faz sentido disputar espaços simbólicos e representativos com o PT no âmbito da esquerda. Tampouco empreender esforços no intuito de desconstruí-lo, de retirá-lo do seu espaço político construído bravamente em quase 38 anos. O PT fez história. Durante sua construção, se articulou com segmentos sociais dos mais diversos e foi se capilarizando em quase todos os setores da sociedade brasileira.

Vivemos um dos momentos mais graves de nossa história. Sofremos um golpe de estado, uma grande derrota do campo democrático-popular e estamos sobre uma forte vendeta neoliberal que nos impõe um profundo retrocesso nos direitos sociais. Ou seja, uma conjuntura que exige que as forças progressistas, populares e de esquerda cerrem fileiras para conter os retrocessos. Logo, querer desconstruir militantes e parlamentares de esquerda é sim fazer o jogo da direita mais vil e predatória.

Tenhamos mais responsabilidade com a esquerda e, sobretudo, com o povo. Ou nos integramos minimamente ou seguiremos no gueto, isolados, perdendo. O inimigo é outro, é maior e bem mais perigoso.

Um comentário:

  1. Então não houve "disputa fratricida". O que houve foi canalhice do vereador do PSOL.

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