Mudou o século, mas para o povo pobre nada mudou, por Cristiano Lima

Oito Chacinas da Candelária por dia | ANF - Agência de Notícias ...

Há exatos 27 anos a Cidade do Rio de Janeiro foi cenário da demonstração do ódio, protagonizado por quem acreditava no respaldo de uma sociedade preconceituosa, racista e justiceira.

Na noite de 23 de julho de 1993, homens armados em dois carros desembarcaram no Centro do Rio, na igreja da Candelária, e dispararam sem piedade, contra corpos de adolescentes, crianças e adultos que estavam dormindo embaixo de uma marquise.

O massacre que ficou conhecido como “a chacina da Candelária” que deixou oito mortos, destes seis eram crianças, além de vários feridos. As investigações apontaram como culpados um grupo de policiais militares.

Passados 27 anos a ideia de um Estado justiceiro ainda prevalece. A mira do fuzil continua apontada para os mesmos corpos, com mesma raça, e de mesma classe social. Seja embaixo de marquises ou em casas humildes, no asfalto ou na favela a bala nunca é perdida, mas sim treinada para acertar aqueles que não são assistidos mas sim perseguidos.

Hoje o Rio de Janeiro, Estado e Capital contam com a irresponsabilidade de seus governantes que nada fazem para mitigar os impactos da política neoliberal que esmaga aos mais necessitados. Em nada contribuem para ajudar famílias que devido às consequências da crise sanitária de dimensão planetária, perderam seus empregos e muitos estão em condição de rua.

Mas para estes governantes, nada parece está fora do normal, pois as cores destes (em sua maioria) que estão nas ruas, ou que têm suas vidas ceifadas por uma política de segurança pública que perdeu sua real função e objetivo, a preservação da vida humana, as cores, a classe social destes corpos são as mesmas.

O pobre, o preto e favelado são alvos e não objetivos destes governos. São combatidos, enfrentados como se fossem os males da sociedade, são enxergados como um problema a ser resolvido. Daí surgem e ainda são vistos como necessários por parte da sociedade as perseguições aos trabalhadores ambulantes, as incursões violentas nas favelas, todo o racismo, preconceito e suas consequências.

O Rio de Janeiro carece de um olhar que contemple a sua maior riqueza, aquela que dá força e completa a sua paisagem, estou falando de seu povo, que luta e constrói essa cidade todos os dias, enfrentando um escasso transporte público, com passagens caras que defasam seu ordenado, trabalhadoras e trabalhadores formais e informais que geram renda para si e impostos para a Cidade. Enfim de um olhar que compreenda que é a pobreza quem deve ser combatida e não o pobre.

Curiosamente a mesma cidade palco desta chacina, conta hoje com a lei 6350 que garante e estabelece os direitos das pessoas em condição de rua, porém nem mesmo as manchas vermelhas em frente a igreja da Candelária são capazes de sensibilizar o governo municipal na  sua regulamentação.
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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.

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