13 observações sobre a resistência ao golpe, por Breno Altman

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1. Nem sempre é possível reagir à contra-revolução nos moldes empregados, por exemplo, pelo chavismo na Venezuela, especialmente frente ao golpe cívico-militar de 2002.

2. Não depende apenas de vontade e empenho da direção política, no momento exato da ofensiva de direita, a qualidade da reação ao golpismo. Se as condições politicas não são preparadas, com antecedência, por uma correta estratégia de poder, o fracasso geralmente é inevitável.

3. A mais importante dessas condições políticas é ter o apoio mobilizado da maioria dos trabalhadores, construindo sua disposição de defender o governo popular como uma batalha de vida ou morte.

4. A verdade é que a orientação petista não tinha como centro de gravidade o enfrentamento inevitável com o núcleo duro das classes dominantes. Não operou os instrumentos de Estado e a política de comunicação nessa lógica, não elevou o padrão de educação política e mobilização social com esse objetivo, não forjou uma aliança orgânica das forças populares que pudesse comandar, em larga escala, um poderoso movimento de contra-golpe.

5. Além dessa debilidade estratégica, as decisões tomadas pela presidente Dilma Rousseff, após a vitoria de 2014, agravaram fortemente a capacidade de resistência. A chamada política de ajuste fiscal, associada a outras graves concessões, no intuito de apaziguar a escalada desestabilizadora do capital e seus agentes políticos, levou ao desânimo, à divisão e à confusão no campo popular, entregando gratuitamente aos inimigos de classe a narrativa de estelionato eleitoral. Esses erros, somados ao acossamento da Operação Lava Jato, fizeram o governo e o petismo perderem, poucos meses depois do triunfo nas urnas, a maioria da classe trabalhadora e das camadas populares.

6. O derretimento do bloco social progressista foi o elemento principal que permitiu um movimento de massas pro-impeachment, majoritário na sociedade, isolando a valente resistência que rapidamente se organizou no ativismo da vanguarda social, os homens e mulheres que compõem a tropa militante da esquerda brasileira.

7. A presidente Dilma Rousseff foi derrubada não apenas porque havia sido alterada a correlação de forças no parlamento, em função de deslocamento do centro para a direita, mas principalmente porque a onda de apoio popular, decisiva para sua reeleição, tinha se invertido completamente entre 2015 e 2016.

8. Por menos confiança que a maioria do povo depositasse no governo usurpador de Temer e seus aliados, esse sentimento não levava à defesa do governo constitucional ou à interrupção do impeachment, mas a uma postura passiva e de expectativa, avessa à convocação de luta pela legalidade ou qualquer outro gesto de suporte ao governo Dilma.

9. Nem mesmo a cristalização da repulsa ao governo Temer e sua agenda de reformas liberais reverteu esse cenário. A tendência de reaproximação das massas trabalhadoras com o petismo é visível, particularmente notada com o crescimento impetuoso do ex-presidente Lula nas pesquisas eleitorais, mas isso não representa maior disposição de engajamento em combate frontal ao golpismo, muito menos em reverte-lo por eventual retorno ao governo legitimamente eleito em 2014.

10. Essa atitude passiva resulta de uma combinação de fatores: a pressão desmobilizadora da crise e do desemprego, a ilusão eleitoralista alimentada pela própria esquerda desde os anos 90, a atrofia de partidos progressistas e sindicatos, a frustração com o segundo governo Dilma, a desorientação alimentada pela Operação Lava Jato, a proximidade do calendário de sucessão presidencial.

11. Há raiva e desconforto da maioria do povo contra o que significa o governo usurpador e as forças que o apoiam, e esse é o motor de arranque do avanço de Lula e da recuperação petista, mas o ponto de confluência está nas eleições do próximo ano, essa é a batalha central que as classes trabalhadoras indicam estarem dispostas a travar.

12. Da mesma maneira que a ditadura de 1964 não acabou porque a resistência foi capaz de restituir João Goulart ao governo, ainda que ele tivesse bastante mais popularidade que Dilma ao ser derrubado, o caminho da normalização constitucional passa pela realização de eleições livres e diretas para presidente, da mesma maneira que foi o movimento pelas Diretas Já, em 1984, que levou ao capítulo final da derrota do regime militar. Não se trata do que é moralmente justo, mas politicamente possível.

13. Por essas razões, a pedra angular de uma política combativa de esquerda está na defesa de eleições democráticas, em 2018, sem a interdição de Lula, e na eleição de um novo governo popular encabeçado pelo ex-presidente. Essas são as bandeiras que permitem e exigem a construção de um grande e audacioso movimento de massas, comandado pela aliança estratégica das forças populares, com um programa em defesa da democracia, de revogação das reformas liberais, rumo a um novo processo constituinte, orientado pelo combate ao capital financeiro, ao latifúndio, ao imperialismo e aos meios monopolistas de comunicação. Essa batalha pode ser um divisor de águas na história brasileira e organizar em outros termos a reação popular: se a impugnação de Lula representaria a mudança de regime político, consolidando o Estado de exceção, sua participação levaria a uma chance fundamental de derrotar a hegemonia oligárquico-burguesa sobre as instituições e a sociedade.

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