A farsa da solução Mourão: por eleições diretas já! por Yagoo Moura
As simpatias de Bolsonaro e Mourão pelo autoritarismo são de conhecimento público. Ambos são representantes das viúvas da ditadura, saudosistas do regime implantado pelo golpe de 1964.
Durante as eleições, muitos ventilaram que era exagerado apontar que a eleição de Bolsonaro podia levar o país ao fim do que restou de um Estado de Direito já solapado pelo impeachment fraudulento da presidenta Dilma em 2016. Para eles, as instituições estavam funcionando e se encarregariam de moderar os impulsos do Messias.
Desde o início, Bolsonaro testa as instituições e incita sua massa de apoiadores contra as mesmas. As marchas convocadas nos grupos que formam as redes do esgoto bolsonarista, em meio a uma crise sanitária de dimensões mundiais, são um sinal de que o projeto fascista tem base social. Segundo as pesquisas, cerca de 1/3 da população ainda aprova o governo.
Só o fato de Bolsonaro, chefe do Executivo, participar dessas marchas pelo fechamento do Congresso e do STF configura crime que o inabilita para o exercício do cargo.
Se restava, por outro lado, alguma dúvida pairando nas mentes mais incautas a respeito do alinhamento incondicional de Mourão, próximo na linha sucessória, ao projeto do presidente, não há mais espaço para incertezas: o artigo publicado no Estadão mostrou a que o general veio.
Ataques à imprensa, ainda que de modo insidioso, aos outros poderes da República e a representantes dos demais entes federados dão a tônica do discurso bolsonarista, reproduzido acriticamente por Mourão, aquele que, pasmem, já encantou pessoas de esquerda como se ele fosse um fator de moderação ao que viesse do Planalto.
O vice-presidente está sendo coerente com sua trajetória de lealdade aos porões da ditadura e a Sylvio Frota et caterva. Seu artigo demonstra que, ao contrário do ex-capitão, ele é minimamente letrado. Cita texto clássico da Ciência Política sobre os federalistas e faz pose de déspota esclarecido, enquanto lustra com a língua o sapato de Jair.
Não resta dúvidas de que estamos em uma situação-limite. Dificilmente este governo chega ao fim, inábil que é para lidar com uma conjugação de diferentes crises: sanitária, política, econômica e social. Muito provavelmente, o que virá é ou um (auto)golpe, com o fechamento total do regime, ou o impeachment de Bolsonaro, resultado de uma frente ampla capaz de unir os mais diferentes setores.
Nesse sentido, o caminho para as esquerdas é, na minha humilde opinião, a defesa do impeachment de Bolsonaro, seguido por eleições diretas, conforme a PEC dos deputados Paulo Teixeira (PT - SP) e Henrique Fontana (PT - RS).
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Yagoo Moura é graduando em ciências sociais.
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