Pós-apocalipse caminhoneiro, por Val Carvalho


Com o fim da paralisação dos caminhoneiros e da crise de abastecimento, o país volta à “normalidade” com um gosto amargo na boca. Apesar de muita espuma sobre redução de tributos, no fundamental a política de preços dos combustíveis se mantém, prenunciando novas tempestades.

Mas o movimento dos caminhoneiros contribuiu para derrubar vários mitos: o primeiro mito diz respeito à suposta competência do mercado, competente apenas para arrancar o couro do povo, cujo melhor exemplo é a privatizada política de preço dos combustíveis. O segundo, é que o governo golpista, que substituiu a suposta “incompetente” presidenta Dilma, não tem a mínima legitimidade, credibilidade e competência política e administrativa. O terceiro mito é o dessa maluquice doentia de quem defende a “intervenção militar”. Foi demonstrado que os próprios militares, sobretudo o alto comando, não querem saber de golpe. Na verdade, por enquanto o golpe só tem apoio mesmo é entre os generais de pijama, na baixa oficialidade, nas polícias e em setores fascistas civis. O próprio Bolsonaro, vendo crescer o apoio à intervenção militar entre os caminhoneiros declarou, de olho na própria eleição, que os “militares vão chegar ao poder, mas por meio do voto”.

Por sua vez, constatou-se que as forças de esquerda ainda continuam sem conseguir aglutinar uma grande força de massa que seja capaz de articular os diversos setores descontentes e de tomar a iniciativa política decisiva contra o golpe. Isso ficou claro quando não puderam unificar a luta dos caminhoneiros com a dos petroleiros num único movimento de massas.

Na realidade, o Brasil vive um estranho vazio político, onde a rejeição da população ao golpista Temer é neutralizada pela descrença em qualquer mudança. Em que o enorme e continuado apoio a Lula presidente, em todas as pesquisas, não é seguido pela pressão nas ruas por sua libertação. Vivemos uma situação como se o país estivesse suspenso sobre o abismo do caos, apenas por um fio. Rejeita-se o presente, começa-se a ter saudade do passado recente, mas não se vê mudança no futuro, a não ser para pior.

Preso em sua cela, Lula é o candidato mais falado nas ruas, ao contrário dos candidatos golpistas, dos quais não se fala, apesar do grande apoio da mídia. Esta não sabe mais o que inventar para puxar matérias favoráveis ao golpe, deturpar os fatos e enganar as pessoas. É uma situação insustentável, que todos sabem que não pode perdurar por muito tempo. E o tempo corre contra o golpe, recém-morto pelos caminhoneiros, mas cujos protagonistas continuam vivos, como zumbis.
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Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores.

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