Ainda é tempo, por Breno Altman

Os riscos de Lula ser preso são grandes. As oligarquias desejam, a todo custo, retirá-lo do jogo político e destruir o PT. Defender os direitos legais do ex-presidente, vítima de implacável perseguição dos setores mais reacionários do aparato de Estado, é tarefa fundamental de todos os democratas e progressistas.

Mais que isso: a qualidade da resposta a eventual prisão do histórico líder petista terá enorme repercussão sobre a reorganização da esquerda e a continuidade do processo golpista. Precisamos organizar comitês de solidariedade dentro e fora do país, convocar ações dos mais diversos tipos, denunciar com todas as forças a armação arbitrária.

Tivéssemos feito isso em 2005, quando o mais importante quadro orgânico do PT, José Dirceu, foi alvo de ofensiva semelhante, com o mesmo objetivo de destruir o PT e derrubar o governo, provavelmente teria sido outra a história dos anos seguintes.

Naquela época, com Lula na presidência e a direita bastante confusa, diante de denúncias mais frágeis, com a PF e o MPF ainda divididos entre correntes opostas, nossas condições de enfrentamento eram bastante razoáveis para empolgar as ruas e bater os bolsões conservadores que tratavam de assaltar as instituições do Estado.

Teria sido um momento crucial para avançar na hegemonia da classe trabalhadora sobre o Estado e a sociedade. Mas a estratégia de concertação prevalente no PT e na esquerda não previa essa hipótese de conflito e não a preparava.

O presidente Lula preferiu o caminho de contornar o choque frontal, aceitando o sacrifício de seu principal general ao mesmo tempo que assustava as elites com a possibilidade de reação popular à bandeira do impeachment. Com à reeleição em 2006, parecia que essa opção fora a mais correta.

Ledo engano: as oligarquias perceberam nosso ponto de fadiga e se reagruparam para voltar ao ataque com muito mais força e coesão, dez anos depois. Aproveitando as brechas da política de evasão ao confronto praticada pelo petismo, pacientemente foi costurando seu domínio sobre os aparatos policiais e jurídicos, estabelecendo narrativas e conquistando a opinião pública para sua agenda.

O resto da história já conhecemos.

Erramos, e feio, no passado, mas ainda dá tempo de fazer a coisa certa. Ou ao menos tentar. Vamos lutar em circunstâncias piores e mais limitadas que em 2005, mas não podemos abaixar a cabeça e colocar a viola no saco.

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