As eleições municipais e a conjuntura nacional, por Sérgio Batalha

A mídia destaca hoje a vitória dos partidos do Centrão nas eleições municipais, destacando as derrotas do PT e de Bolsonaro. Com este pressuposto, passam a fazer projeções otimistas para a centro-direita nas eleições de 2022.

Ocorre que existem falhas evidentes nesta análise. As eleições municipais refletem questões locais e favorecem lideranças regionais. Os partidos vitoriosos tem a maior capacidade de atrair estas lideranças regionais mais fortes, normalmente a partir de verbas oriundas do governo estadual ou federal, intermediadas por uma bancada parlamentar forte.

Assim, o MDB, PP ou o PSDB atraem políticos com força nos municípios. Mas não transferem votos a estes políticos, nem conseguem se beneficiar desta força em uma eleição presidencial. Tanto isto é verdade que o “campeão” MDB não consegue ter um candidato competitivo nas eleições presidenciais, nem transferir votos em capitais ou cidades nas quais seu candidato não era originalmente forte.

Assim, o pequeno número de prefeitos eleitos por apoiadores de Bolsonaro e pela esquerda não significa que estás forças estariam descartadas em 2022. Na verdade, esta correlação de forças local tem maior importância na eleição de uma bancada no Congresso. A conclusão que se pode chegar é que o Centrão provavelmente continuará a ter maioria no Congresso em 2022.

Bolsonaro se mostrou incapaz de construir um partido ou uma base de apoio, o que é inerente à extrema-direita. Não há como atrair estes políticos regionais de centro-direita com as ideias do fascismo e sem uma política de distribuição de verbas federais. A inépcia administrativa do seu governo também atrapalha, resultando em uma incapacidade de formar uma bancada forte no Congresso em 2022.

Já a esquerda teve uma vitória importante em Belém e algum crescimento em capitais e grandes cidades. A comparação com prefeituras conquistadas pelo PT em 2012 será obviamente desfavorável, pois nesta eleição o partido controlava o governo federal e tinha uma capacidade de atração das lideranças locais, muitas sem qualquer identificação com o partido. 

Em relação a 2016, o PT teve, na verdade, um pequeno avanço. Mais importante do que a conquista de uma capital de pequena importância como Rio Branco (pouco mais de 400 mil habitantes) são as vitórias em cidades industriais como Contagem (650 mil habitantes), Juiz de Fora, Diadema e Mauá, estas duas últimas no ABCD paulista. Não são desprezíveis também os bons resultados em Recife e Vitória, além do desempenho em Porto Alegre na coligação com o PC do B.

No entanto, não há consequências maiores para 2020, com exceção da eleição para o Congresso. Bolsonaro será um candidato mais ou menos competitivo de acordo com a conjuntura econômica em 2022. Já a esquerda poderá também vencer, dependendo da mesma conjuntura e da construção de suas candidaturas.

______________________________________________________

Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

Nenhum comentário: