“Eu prendo! Arrebento!”, por Sergio Batalha
A frase famosa foi dita em 1979 pelo general Figueiredo, último presidente da ditadura militar. Ironicamente, ele se referia à abertura política do regime e disse que “É para abrir mesmo! E quem não quiser que abra, eu prendo! Arrebento!”.
A história eternizou a frase como um sinônimo da truculência boçal de Figueiredo, incapaz de enfrentar politicamente as resistências internas do regime à abertura política. Tornou-se um símbolo do ridículo da ditadura militar brasileira.
Mais de quarenta anos depois, um presidente brasileiro eleito, sob a vigência de uma Constituição democrática, consegue superar o general Figueiredo na boçalidade. Ao ser perguntado sobre o motivo de Queiroz ter depositado 89 mil na conta de sua esposa, Bolsonaro responde ao repórter que “minha vontade é encher sua boca na porrada!”.
Além de ter cometido o crime de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal, Bolsonaro reafirmou mais uma vez sua incapacidade de conviver com a democracia, com o Estado de Direito. É um projeto de ditador militar dos anos 70, perdido no tempo e no espaço.
A constatação parece óbvia, assim como a conclusão de que todos os democratas deveriam apoiar o seu impeachment. No entanto, vê-se claramente entre setores da política, bem como entre setores do empresariado, um discreto repúdio à ideia, com a justificativa de que Bolsonaro se moderou e pode conduzir uma agenda econômica que atende aos seus interesses.
A expressão política do abandono do impeachment por este grupo é a atitude de Rodrigo Maia, que vem trabalhando para ser o grande articulador dos interesses do empresariado no Brasil. Ele afirma que “não é o momento de aumentar a crise política”, como se não fosse o próprio Bolsonaro a origem da crise.
Infelizmente, nossa elite não tem qualquer compromisso com a democracia e tem uma visão sempre míope do país. Pensa sempre em atender seus interesses imediatos em detrimento de um projeto de desenvolvimento do país.
A tolerância com Bolsonaro poderá custar caro mesmo aos empresários, pois, como se viu na ditadura militar, a violência e o autoritarismo atingem mais fortemente os mais pobres, mas não deixam de tocar mesmo aos privilegiados. Não pode haver crescimento econômico e social com um ditador frustrado como Bolsonaro no poder.
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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.
Sensacional Sérgio.
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