Precisamos falar sobre as transmissões dos jogos de futebol, por Sergio Batalha

Bolsonaro e o ministro das Comunicações, Fábio Faria

A MP de Bolsonaro sobre as transmissões de jogos de futebol provocou um debate confuso nas redes, onde a política e clubismo embaralham a visão sobre o futuro do futebol brasileiro.

Por um lado, não podemos rejeitar a medida provisória apenas porque ela foi editada por Bolsonaro. Por outro, não podemos ser favoráveis a ela apenas porque ela prejudica a Globo ou favorece imediatamente o nosso clube.

As transmissões de partidas de futebol tem de ser tratadas dentro do contexto maior do desenvolvimento do próprio esporte. Não adianta você favorecer apenas o seu clube em detrimento dos demais, pois, obviamente, um campeonato é feito de 20 clubes. Se apenas um ou dois clubes são fortes, o campeonato perde o interesse e, com o tempo, até estes clubes mais fortes vão se enfraquecer.

O domínio absoluto da Globo sobre o futebol durante décadas fez mal ao esporte. Ela privilegiava alguns clubes em detrimento de outros, interferia no horário dos jogos e até no próprio campeonato.

Mas a pulverização de transmissões pela internet por parte dos clubes mandantes dos jogos não é um avanço em si. As transmissões são de qualidade muito inferior e, como observou o Cid Benjamin, não há jornalismo esportivo. Os narradores e comentaristas são vinculados ao clube mandante e não fazem uma análise isenta da partida.

Há também a necessidade de cobrança na transmissão, como o flamengo já vai implementar, pois a arrecadação do jogo contra o Boavista foi inferior ao que seria pago pela Globo. Tal cobrança vai afastar do futebol o torcedor mais pobre, elitizando o esporte.

Outro fator que vai reforçar a elitização será a necessidade de acesso à internet rápida para assistir a tais transmissões fora da TV aberta ou a cabo. A edição de uma medida provisória com o objetivo político de prejudicar a Globo e adular o clube de maior torcida, foi uma péssima medida, típica de um governo irresponsável como o atual.

Temos de aproveitar a discussão desta medida provisória no Congresso para construir um novo modelo de transmissões que construa um futebol brasileiro forte, com clubes fortes.

O flamengo não vai jogar sozinho e tem de enxergar o campeonato como um sistema, onde todos são interdependentes. É importante também permitir que todos os torcedores tenham condições de acompanhar os jogos dos seus clubes. O futebol é um patrimônio cultural do nosso povo e não um simples negócio para enriquecer dirigentes e empresários.
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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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