
A ditadura, o povo e a elite, por Cristiano Lima
Se transborda sangue e dor não cabe comemorar. A ideia insana da homenagem ao 31 de março, além de ser uma lança apontada para a democracia é também a mais suja demonstração de ódio e precariedade de amor e respeito a vida humana.
O período de dor iniciado no final do primeiro trimestre de 1964, pode-se e deve-se afirmar, nada teve em clamor da sociedade, muito menos de ascensão econômica e tão pouco de um regime que dispunha da participação e aceitação popular.
Foi golpe! Foi ditadura! Foi terror! Para cada afirmação vale uma exclamação de indignação.
Toda a verdade da ditadura foi escrita com sangue de mulheres, homens e até crianças, um período que não deve ser esquecido e tão pouco deturpado. Uma fase de empoderamento e proteção de uma elite corrupta, da liberdade para manifestação e pratica dos atos mais sombrios, horrorosos de tortura e do prazer em exerce-lo.
Do ponto de vista das politicas publicas e desenvolvimento humano o Brasil do regime militar foi competente em sua omissão e descompromisso. Quando o assunto é educação deixou muitos pelo caminho do analfabetismo e da não conclusão do antigo ginásio.
A educação pública era duramente monitorada, o que impossibilitava a formação crítica e formava pessoas para engordar as filas do desemprego.
O Brasil militar, golpista, do chumbo, colocava o pobre em lugar de prestador de serviços à classe dominante, esse mesmo Brasil alimentava esta classe para a manutenção de um sistema opressor.
A educação, nessa época, era mercadoria de luxo e cara, tão cara que para os donos de escolas particulares era fonte de renda garantida.
A precariedade no ensino publico, é claro, tinha sua lógica de dominância e controle.
A saúde , nesse período, também “dançou” conforme a música. Politicas de prevenção a doenças e saneamento não faziam parte do “esforço” militar. Aos mais empobrecidos lhe restavam filas longas nos corredores do INAMPS.
Quem mais ganhou nesse período?
Ora, se coincidentemente não foi a iniciativa privada. Com o caos na saúde pública, as clinicas particulares respondiam a quem pudesse pagar.
A segurança pública, esta se empenhou de fato no papel de contenção, repressão e perseguições, procurando até mesmo num poder paralelo que ali, em pleno exercício de um regime militar, ganhava força. Grupos justiceiros que curiosamente ganham força em tempos de “moralidade, bons costumes e preservação da ordem”.
Era o Esquadrão da Morte que aterrorizava e participava da caça humana e interrogatórios. Faziam o trabalho mais sujo do Estado de exceção.
Toda essa maquina de tortura, dor necessitava de uma engrenagem forte para movimenta-la, aí entra uma peça fundamental: A corrupção.
Sim, em tempos de totalitarismo, repressão e censura é mais fácil a prática da corrupção por quem está no comando. Sem transparência, prestação de contas promover obras é um bilhete de loteria premiado.
Crueldade, mortes, perseguições, autoritarismo na economia e com o povo, sangria nos direitos humanos e traumas que perturbam o presente das vitimas que sobreviveram a este horror, envergonham a história do Brasil. Porém, não devemos esquecer esse período que merece repúdio e não honrarias.
Comemorar, é muita falta de decência e humanidade.
Deturpar a história e tentar convencer o povo de que não houve golpe e sim desejo popular contra uma ameaça comunista é uma falácia, mentira que transpira armadilha.
O povo não quis, não participou dessa monstruosidade, o povo foi vitima.
Ditadura nunca mais!
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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.
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