Crianças e adolescentes em disputa: poder público ou tráfico de drogas, por Gilberto Palmares

Não desvie o olhar. Essa frase, impressa nos muros da cidade, como intervenção urbana, nos chama à responsabilidade. Há realidades tão duras e dolorosas que, muitas vezes, nos impelem ao distanciamento. A participação de adolescentes e até crianças no tráfico de drogas é um desses casos.
Pesquisa recente realizada pelo Observatório das Favelas revelou que a participação de meninos entre 10 e 12 anos no tráfico aumentou 50% em relação à 2006. Assustador índice de 13% dos entrevistados. Crianças ainda, já no comércio de drogas, atraídas, segundo os próprios meninos contam, pela possibilidade de garantir dinheiro rápido para ajudar a família ou acessar a bens de consumo, numa sociedade que ter é o que importa. Um caminho que inclui o abandono da escola. Estudar aponta para o futuro, mas o tráfico para o presente, numa disputa desleal em tempos de crise.
O Rio de Janeiro tem o maior índice de desemprego da região Sudeste: 15% dos trabalhadores estão desempregados. Apenas 2,5 milhões de pessoas têm emprego formal no estado, o menor índice da história. Os direitos trabalhistas foram esmagados pelo governo Temer e Pezão, do mesmo PMDB golpista, massacrou os servidores do Rio de Janeiro. O estado está em situação crítica e não é fácil apontar um caminho para os jovens diante de um quadro desses.
O golpe incluiu a destruição dos programas sociais que davam esperança à garotada. O acesso às escolas técnicas e universidades, as bolsas de apoio, programas como o Ciências Sem Fronteiras, a perspectiva de crescer através da combinação estudo-trabalho, tudo isso foi destruído em apenas dois anos. Primeiro eles tiraram a Dilma, depois, tiraram qualquer expectativa de uma vida melhor para os mais pobres.
Não é possível desviar o olhar e, nessa perspectiva, estamos construindo um programa da candidata petista ao governo do Estado, a professora Marcia Tiburi, que, ao contrário de se afastar o problema, buscará solução concreta para ele. A proposta é de criar um amplo programa de estágio e de jovem aprendiz oferecido a adolescentes moradores de favelas, com condição básica a frequência escolar, disputando assim corações e mentes desses meninos e meninas. Trata-se de pensar conjuntamente a educação, a formação para o mercado de trabalho, a geração de renda, a segurança pública e a dignidade das crianças, adolescentes e suas famílias. Já a partir de 14 anos, como prevê a legislação, os adolescentes de escolas públicas das favelas terão a oportunidade de participar do projeto Jovem Aprendiz do Futuro e, a partir de 16 anos, do Estágio para o Futuro, abrindo uma janela de oportunidades.
Não será um projeto simples, envolverá, além de diversas áreas de governo, a sociedade civil e empresários. Mas será uma aposta em enfrentar uma questão que diz respeito a todos que vivem nesse estado, considerando que a pobreza e a violência acabam, de uma forma ou de outra, trazendo consequências à toda população, não só os atingidos diretamente por ela.
Sabemos que a criação de oportunidades não resolverá sozinha o problema, mas é um passo concreto de apresentar uma opção ao mundo do crime de forma imediata. O certo é que nosso olhar está voltado para essa disputa. Se o poder público não fizer, o tráfico fará. Como nos ensinou Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
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Gilberto Palmares é Deputado Estadual e líder da bancada do PT na ALERJ.

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