Unidade das esquerdas: um falso debate, por Daniel Samam

Publicado em minha coluna no Brasil 247.


O título é polêmico, é verdade. Mas dou a mão à palmatória para as críticas que estimulem o debate. A unidade das esquerdas ultrapassa o aspecto eleitoral. Ela possui um caráter estratégico no propósito de derrotar o consórcio golpista e seu projeto econômico pautado na redução do papel do Estado como indutor da economia e na supressão de direitos da classe trabalhadora.

Por isso, a unidade das esquerdas, bem como de todo campo democrático-popular deve estar, penso eu, na defesa do direito de Lula ser candidato. Isto não quer dizer que todos devam apoiá-lo no pleito de 2018. Defender o direito de Lula ser candidato é defender o Estado Democrático de Direito e a Democracia.

A tática eleitoral de todas as legendas, à esquerda e à direita, se baseia no fortalecimento de suas respectivas bancadas parlamentares através do lançamento de candidaturas majoritárias ao Executivo (prefeitura, governo e presidência da República). É legítimo? Claro que sim. Mas, para o campo democrático-popular, qual a estratégia para derrotarmos o consórcio golpista? Afinal, o que significam as eleições de 2018 na perspectiva da direita e da esquerda?

Pois bem, para a direita, as eleições de outubro são a oportunidade de aplicarem um verniz democrático e institucional a todo o entulho de desmontes do Estado e de retirada de direitos aprovados desde a farsa do processo de impeachment de Dilma, em 2016. A direita tem como horizonte estratégico eleger um presidente com cacife político que só se obtém através do voto popular para consolidar e aprofundar a vendeta neoliberal. O problema é que na análise da luta de classes, a direita tem a hegemonia mas não tem o controle. Por conta disso, a direita está dividida e não conseguiu construir unidade em torno de um nome forte para a disputa de 2018. Por isso a razão da tática de impedir a candidatura de Lula na Justiça.

Para nós da esquerda, 2018 terá um caráter plebiscitário, onde a luta de classes irá definir qual o projeto de Brasil será implementado. O de desenvolvimento com justiça social, ou o projeto vigente, que aprofunda as desigualdades, a exploração do trabalho pelo capital e privilegia o 1% mais rico. Esse é o ponto para entendermos como iremos começar a retomada democrática no país.

Retomando o ponto da unidade das esquerdas, esta não se configura no apoio a um único candidato. Não se trata de unidade no ponto de vista meramente partidário. Aliás, sou simpático à ideia de que os partidos de esquerda lancem seus candidatos, pois é importante ter mais vozes na defesa do ideário democrático-popular no período de campanha que antecede o pleito e na tática do campo de esquerda construir uma sólida e numerosa bancada no Congresso Nacional.

Em suma, é preciso o entendimento de toda a esquerda que já foi construída pela própria classe trabalhadora a unidade em torno do Lula. E foi construída para além do PT, que ainda tem setores que insistem de forma equivocada em pensar num "plano B" caso Lula seja impedido de se candidatar.

O povo brasileiro identificou novamente no Lula a capacidade de, na atual correlação de forças, ser o símbolo da classe trabalhadora para a superação da crise e da retomada do desenvolvimento com justiça social e renda no Brasil.

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