"Catastrofismo é discurso furado", por Breno Altman
Diversos analistas do campo progressista casam aposta que a política econômica do governo usurpador levará o país ao aprofundamento da recessão e seu alongamento estrutural. Tal raciocínio, produto de interpretação voluntarista, encobre uma terrível armadilha política: caso o país volte a crescer, o centro da crítica ao golpismo vira pó.
Não vamos nos iludir. As políticas de arrocho dos salários, ajuste fiscal, eliminação de direitos e privatização de ativos públicos, na crista de um brutal período recessivo, tornou o Brasil um país barato e atraente tanto para investimentos financeiros quanto produtivos.
A burguesia está equacionando o relançamento da acumulação de capital pela ponta da oferta, como é próprio da doutrina neoliberal: o novo desenho da economia não passa pelo mercado interno de massas, como era o eixo do programa petista, mas pelo aumento do fluxo de capitais em busca de bons negócios.
A tendência é a reversão da recessão já em 2017. Não nos surpreendamos se, em 2018, a taxa de crescimento for razoavelmente robusta. A questão central é que os instrumentos para esse crescimento são o rebaixamento da renda do trabalho, o corte dos gastos sociais para equilibrar as finanças públicas, a privatização de empresas estatais e a subordinação aos centros imperialistas, entre outras medidas.
O discurso de esquerda, portanto, não pode estar vinculado à previsão de uma catástrofe improvável, mas marcado pelo enfrentamento contra a perda de direitos e conquistas da classe trabalhadora.
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