Museus e Cultura em períodos de pandemia, por Jose do Nascimento Junior


Vivemos um período nunca vivenciado pelo setor cultural, muito menos pelos museus.  Nem no período das duas grandes guerras mundiais tivemos 100% dos museus fechados.

Nem o deus grego, Pan filho de Zeus imaginou algo nessa proporção. Pan é o deus dos bosques, natureza. Podemos dizer que seria uma forma de se vingar de como estamos tratando a natureza? Natureza e cultura são resultados um do outro. A cultura aponta o que é natureza, sentido da diversidade, essa relação da natureza da construção de conhecimento e ciência. Estamos voltando quase ao estado de natureza., por conta do deus Pan.

Pan tem inúmeras relações inspiradoras para o desenvolvimento do pensamento antropológico.  Nesse momento de crise todas as ações culturais vão repensar suas dinâmicas, os museus terão que fazer uma possibilidade de atrair público. Não vivendo no mundo virtual, a busca do público será o desafio pós pandemia. Virtualidade não será o mundo definitivo das ações culturais. Teremos que buscar os instrumentos de políticas públicas dos países conforme aponta recomendação da UNESCO sobre museus, proteção de museus e coleções, sua diversidade e seu papel na e sociedade. Os museus não serão instrumentos do ócio criativo via as exposições virtuais.

O resultado da mudança dos museus não pode ser uma marca de pandemia. Essa marca muito ruim cria uma cultura ruim de mortes. Temos que construir uma cultura de museus que inclua o direito à vida. O tempo livre não pode ser pensado. O depois da pandemia tem que ser a construção de políticas públicas que fortaleçam os museus institucionalmente. A museologia tóxica que deveremos construir uma nova visão sobre as políticas públicas no geral. Pelo momento que estamos vivendo, a valorização do que público torna-se fundamental, sem meias palavras. Defender de fato é dizer como estamos sofrendo sem saúde pública em várias partes do mundo. Termos estruturas democráticas, amplas e socialmente representativas é estratégico.

A pergunta de agora para frente que será qest ce q´un muséee?

Não vivemos um momento poético.  Na sociedade morreram mais pessoas do que em muitas guerras nos Estados Unidos, do que a guerra do Vietnã, por exemplo. Triste para milhares. Como reconstruir as memórias a partir disso é importante. Não faremos mais museus após esse momento sem essas marcas sociais. Um museu com a marca da covid-19 é como foi para Alemanha e o mundo musealizar os campos de concentração. Essas são memórias da dor, difíceis de esquecer. É uma geração que terá essa marca. Não tem máscara que não nos faça sofrer esse momento. Teremos uma nova cultura de relações social passado esse processo. A busca de respostas coletivas será fundamental nada virtual são relacionais as respostas possíveis para avançarmos

O individualismo reforçado terá que ser combatido. Todos que saírem vivos vão achar que saíram sozinhos, não que ocorreu uma decisão coletiva de isolamento. As diferenças sociais ficarão mais claras em uma crise desse tamanho, da morte predominante de pobres e negros mais atingidos pela falta de políticas públicas que a elite de classe média que se apropriam das conquistas sociais. A quarentena é uma forma que todos sobrevivam, não uma restrição para alguns. Assim sofremos mundialmente por uma 3ª guerra mundial e temos que sair mais coletivistas e solidários após a pandemia, não mais neoliberais. Uma nova memória social das catástrofes sempre nascem novas memórias sociais o contemporaneidade do futuro será outra cultura. Os governos acharão que todas as políticas públicas poderão ser virtuais, que não precisarão construir escolas, museus e os movimentos sociais com as pessoas da cultura do isolamento romper com as restrições políticas, que utilizarão a crise para implantarem nova cultura, nova ações. Vamos aprofundar os instrumentos que temos direito a museus a cultura a saúde educação. Estas são algumas reflexões.

Não incorporamos a ideia liberal de alguns governos de esquerda de `soft power`. Os museus serão elos de reconstrução das relações culturais nas sociedades contemporâneas.

Temos um desafio de caráter coletivo, não são saídas individualistas como setores sociais querem fazer boa parte da sociedade aceitar como a única saída. A crise mundial na saúde só aponta para necessidade das políticas públicas. O bom é que já temos esses instrumentos Brasil na área de museus e o SUS na saúde, e só pensarmos juntos o aprofundamento e a consolidação desses instrumentos. Temos muito o que fazer e avançar.
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José do Nascimento Junior é Cientista Social Antropólogo, Doutor em Museologia e Patrimônio.

Um comentário:

  1. Bela reflexão, ainda que alguns consigam se comunicar bem na virtualidade ainda é pouco. Museus é vida, tem a ver com ações coletivas que impactam diretamente a sociedade, do contrário seria só um "eterno guardar coisas".

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