O agronegócio brasileiro aguarda sua autodestruição, por Rui Daher

Publicado originalmente na Carta Capital.


Embora não levem nada a sério do que escrevo, agrada-me ver os produtores brasileiros de grãos felizes com, finalmente, as loas que são dedicadas à agropecuária brasileira, especialmente aos produtores de grãos, que aumentam produção, produtividade e continuam expandindo as novas fronteiras da produção, protegidos por bilhões de dólares a comprometer nossos principais biomas.

Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, Guianas, Caribe, quem sabe mar adentro. Afinal, somos espetaculares, conforme o saber de Ronaldo Caiado, bancada ruralista e Michel Temer que hoje lhes entrega tudo o que pedirem.

Até que chega um bebê suíno, pronto para o abate, e pergunta: “Um minuto para o sacrifício. E no rabicó não vai nada”?

Gente sem jeito esperando a autodestruição. Pergunto-lhes: estão contentes com a competitividade de sua infraestrutura; com a cartelização na indústria de fertilizantes e agrotóxicos e os preços que praticam; com o crescimento das barreiras internacionais; com o fiofó que o Brasil oferece a Donald Trump e União Europeia; com os acordos bilaterais EUA-China; com a falência provocada pelo governo ao Mercosul; com o nosso afastamento da exportação para a África?

Conto-lhes uma historinha, sobretudo aos “campeões nacionais”, que progrediram, a partir de 2005, quando um demônio governou, por oito anos o País. Até lá vocês foram apenas devedores do Tesouro Nacional e dos fornecedores de insumos, para quem davam o cano ou pediam repactuações nem todas cumpridas. Sofri muito com isso.

O que mudou de lá para cá? Seu insano trabalho, as mãos calejadas? A boa vontade dos compradores do planeta? Ou a dos fabricantes multinacionais de agroquímicos dos quais o Brasil depende 80% de importações? Dependeu dos favores do Estado, sobrinhos e sobrinhas do Capitão.

Mas a economia capitalista não parará aqui a dar-lhes merecida folga. Diante de todos os seus obstáculos, os demais concorrentes internacionais, a cada ano, caminham cinco à nossa frente. Celeiros do mundo somente se vendermos muitas terras para que eles possam modernizar e racionalizar a nossa produção, dependente de suas tecnologias. Para o Brasil obter algum grau razoável de tecnologia, capaz de compensar nossas falhas de infraestrutura e competitividade.

Dou exemplo de para aonde os EUA caminham:


Vão encarar sem reverem seus potenciais competitivos, a reboque do que eles determinam?

Então tá, mas pensem nestas tecnologias de ponta aplicadas ao arroz, feijão, trigo (que pouco temos), hortaliças, frutas, legumes, mandioca, costelinha de porco, cachaça, pimentão, tomates, cebolas, dendê, batatas, alho, lácteos (puta queijo que trouxe do Povoado de Moçambo, em Minas Gerais), o cafezinho das Montanhas Cafeeiras, o chuchu, o mamão, o cacau, o pequenino e branco figo rio-grandense, o tabaco alagoano de Arapiraca, a castanha-de-caju do Pará. Tudo medicinal.

Vão repetir Ohio, nós tropicais, como eles não sabem ou não podem fazer? Tontos, muita burrice. É o que temos de melhor para agregar valor. Apoiem a agricultura familiar e os produtos lá plantados. De lá virão nossas comidas e exportações de maior valor agregado.

Volto ao assunto de forma mais mortífera. Se a AK-47 não me levar a outros alvos.


Rui Daher é criador e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

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