"Não é só que o nazismo não seja de esquerda. A esquerda é o seu carrasco", por Darlan Montenegro

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O nazismo original e o neonazismo têm e tiveram muitos alvos, em termos concretos: os judeus, os ciganos, os negros, os eslavos, os imigrantes da África e da Ásia, os não-arianos em geral (no caso do nazismo original) etc. Mas, em termos gerais, abstratos, de princípio, seu alvo foi e segue sendo um só: a ideia relativamente recente de que as pessoas, independente de quaisquer diferenças entre si, são todas igualmente portadoras da mesma dignidade e dos mesmos direitos.

Antes de mais nada, o nazismo condensa as múltiplas reações das elites mais reacionárias europeias contra essa ideia fundamental.

Configurada de maneira relativamente sólida no século XVIII, através de pensadores que sintetizaram elementos igualitários que vinham se afirmando em segmentos da opinião europeia ocidental nos séculos anteriores, a ideia de igualdade tem sido permanentemente desenvolvida e ganhou sua versão mais profunda e radical nos movimentos revolucionários anti-capitalistas surgidos a partir do século XIX, irmanados, quase desde a sua origem, aos movimentos de mulheres e anti-imperialistas, que levavam ainda mais longe as ideias originais de igualdade do século XVIII.

Os comunistas querem um mundo novo mais igualitário do que as limitadas igualdades liberais. Os nazistas querem um mundo em que essas aparentes igualdades liberais sejam substituídas pelas desigualdades expressas e inequívocas do passado pré-Revolução Francesa.

Não é surpreendente, portanto, que o maior alvo e o maior inimigo do nazismo, ao longo da sua história, tenha sido o comunismo, que é a forma mais radical de defesa da supressão de todas as desigualdades que a humanidade já produziu. Não apenas um inimigo filosófico, na batalha de ideias. Um inimigo concretíssimo. Seu inimigo mais dedicado e consequente, desde muito antes da Segunda Guerra. E, ao fim e ao cabo, o maior responsável por sua derrota. Os vinte milhões de cidadãos soviéticos mortos são o preço mais alto que a humanidade pagou para derrotar o nazismo. Não é só que o nazismo não seja de esquerda. A esquerda é o seu carrasco.


Darlan Montenegro é cientista político e professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

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