Como pensa o eleitor da periferia de São Paulo que deixou de votar no PT?


Desde que o Brasil voltou a ter eleição direta nas capitais, São Paulo já teve nove prefeitos. Nesse período, iniciado em 1985, o PT foi o partido, na média, que mais se destacou. Quando houve segundo turno, os petistas estiverem nele. Ao todo, três prefeitos da legenda foram eleitos: Luiza Erundina em 1988 (quando ainda não havia segundo turno), Marta Suplicy em 2000 e Fernando Haddad em 2012. 

A maioria do voto em petistas sempre esteve na periferia. Se perdia nos bairros centrais, o partido tentava tirar a diferença nos bairros mais afastados. Os bairros mais pobres eram o grande trunfo no partido até a eleição de 2016. 

Como outros petistas, Fernando Haddad, então prefeito em busca de reeleição, ficou em segundo lugar, mas não conseguiu levar a eleição ao segundo turno. Foi a primeira vez que a eleição foi liquidada em uma etapa desde que o segundo turno foi instituído, em 1992. 

A derrota de 2016 começou a ser esboçada já em 2014. Naquela disputa, Aécio Neves, do PSDB, superou Dilma Rousseff em 48 das 58 Zonas Eleitorais da cidade. 

Em busca do eleitorado perdido, o PT foi à periferia para tentar entender o que mudou na percepção daquelas pessoas a respeito da política, do Estado e de temas como meritocracia e assistencialismo. 

Logo abaixo, alguns dos principais pontos e conclusões da pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, órgão de formulação política do Partido dos Trabalhadores. 

O público alvo 


A Fundação Perseu Abramo fez uma pesquisa qualitativa, mais focada em extrair conclusões subjetivas, com moradores de bairros da periferia de São Paulo. Foram 63 entrevistas em profundidade e cinco grupos focais que tinham entre 8 e 12 participantes cada. 

Maiores de 18 anos, os participantes têm em comum o fato de terem deixado de votar no PT nas últimas duas eleições. Ou seja, eles eram eleitores do partido até 2012, quando a sigla conquistava vitórias na periferia, mas não votaram em Dilma Rousseff em 2014 nem em Fernando Haddad em 2016. 

As entrevistas e os grupos de discussão aconteceram entre novembro de 2016 e janeiro de 2017, depois da derrota de Haddad no primeiro turno. Três em cada dez entrevistados são ou foram beneficiários de programas do governo petista como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida ou Prouni. 

“A população periférica da cidade de São Paulo tem opiniões próprias, complexas e que não seguem esquemas ideológicos polarizados e encartilhados”, Matheus Tancredo Toledo sobre os resultados da pesquisa. 

Algumas conclusões 


Quem são 

Os entrevistados se definem como classe média e associam a pobreza à falta de moradia e alimento. Eles identificam o patrão como diferente, mas não veem relação de exploração já que um precisa do outro. Os entrevistados querem ascensão social, trabalham para “chegar lá”. 

Conflito de Classes 

Para os trabalhadores, o principal conflito que existe na sociedade atual não é entre ricos e pobres, mas entre sociedade e o Estado. 

Políticas Públicas 

Apoiam programas que garantam acesso a oportunidades, mas rejeitam as que supostamente "duvidam" da capacidade dos cidadãos, como as cotas. 

Meritocracia 

A ascensão vem com trabalho e esforço. Os entrevistados sabem que as oportunidades são desiguais, mas não veem barreiras intransponíveis. Essa percepção é ainda maior entre os jovens. 

A Política e os Políticos 

A política institucional é "suja" e os políticos não cumprem seus deveres com o povo. A corrupção é, para eles, o principal problema do Brasil porque é também a causa de outros como desemprego e violência. O mercado é mais confiável que o Estado. 

O papel da política e meios de comunicação

Os entrevistados, com a rotina atarefada, têm pouco tempo para pensar em política. As principais fontes de informação são os veículos da "grande mídia". 

Divisão Política

A polarização política, entre direita e esquerda, não é bem definida para os entrevistados. Disputas entre "conservador" e "progressista" ou mesmo palavras como "coxinha" e "reaça" não fazem sentido para os entrevistados. 

Divisão de Responsabilidades

Há confusão sobre as atribuições de prefeituras, Estados e governo federal. “A tendência é de que tudo o que concerne à vivência concreta da cidade seja cobrado das prefeituras e o que diz respeito a questões mais macro e abstratas para a Presidência da República, isentando o governo estadual.”

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