"Eleições diretas, já", por Luiz Carlos Bresser-Pereira


Ontem a Folha publicou belo e indignado artigo de Guilherme Wisnik sobre filme documentário, "Martírio", de Vincent Carelli, que narra a violência e o roubo de terras de que têm sido vítimas os Guaranis-Kaiowás do Mato Grosso. E na mesma Folha há a notícia de que o governo federal prepara decreto que permitirá ao agronegócio rediscutir todas as terras que já são reservas indígenas. Hoje continuará a votação da emenda do teto que esse mesmo governo enviou ao Congresso para iniciar o desmantelamento do Estado social brasileiro. O desemprego não para de subir e as empresas estão quebradas ou quase, mas esse governo nada faz.

Que governo é esse? Um governo de oportunistas que participaram durante treze anos dos governos do PT, nunca tendo adotado um programa ortodoxo-liberal, mas que agora o adotam de forma radical. Um grupo de políticos que aproveitou a crise econômica e política para prometer ao PSDB e às elites rentistas e financeiras um programa neoliberal através do documento, "Ponto para o Futuro".

Qual o critério que utiliza desde que assumiu o poder? O critério neoliberal: supor que "o mercado" (um mecanismo milagroso) tudo coordena com perfeição, de forma que o governo nada tem a fazer no plano econômico senão cortar despesas, reduzir o tamanho do Estado, tirar direitos dos trabalhadores e dos pobres.

Quanto tempo durará esse governo? Já não acredito nem quero que chegue a 2018. As delações mostram que seus membros não recebem apenas doações no caixa 2: eles receberam também propinas, trocaram emendas ou obras por dinheiro. O aprofundamento da recessão mostra que o governo, ao invés de procurar superá-la, a aprofunda. Sua popularidade não para de cair. Torna-se cada vez mais claro para as classes médias moralistas que trocaram o governo Dilma ficaram por um governo muito inferior no plano moral. E a pesquisa de hoje do Datafolha mostra que o carro-chefe das suas reformas neoliberais, o teto fiscal, é fortemente rejeitado pela pelos brasileiros: 60% são contra; apenas 24%, favoráveis. Pesquisa de ontem também do Datafolha mostra que a popularidade de Lula voltou a subir fortemente.

Hoje o notável jornalista Mario Sergio Conti publica na Folha o artigo "Fora Temer", no qual afirma, com razão, que "o presidente é o obstáculo maior à normalidade democrática e à racionalidade econômica". Há 45 dias um jovem me convidou para participar de uma manifestação "Fora Temer". Eu disse a ele que compreendia a indignação dos jovens contra um governo que chegou ao poder violentando a democracia, mas com a minha idade e a minha responsabilidade eu não queria aprofundar a crise. Já não penso mais assim. A crise só se aprofunda; os prejuízos econômicos, sociais, e morais são cada vez maiores. O Brasil voltará a ser governado de maneira minimamente decente quando seu presidente for diretamente eleito pelo povo. Precisamos da renúncia de Temer e de eleições diretas já.

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