Ódio que gera ódio - como age a polícia do Rio em conjunto com a mídia corporativa


Não é de hoje que a Polícia Militar tem realizado operações ostensivas nas comunidades do Rio de Janeiro. A narrativa que sempre se espalha na imprensa corporativa é a mesma: "Precisamos combater o tráfico e a criminalidade." Assim são justificadas as ações policiais e, consequentemente, as mortes que dela derivam.

Nesse final de semana, entretanto, o caso da queda do helicóptero na Cidade de Deus, pode ajudar a entender uma das origens do ódio que tanto motiva as ações militares nas comunidades.

Sábado, 19 de novembro de 2016. Por volta das 18h cai o helicóptero da PM na Cidade de Deus, e a tese que imediatamente toma os noticiários é a de que ele teria sido abatido por bandidos em trocas de tiro com a polícia. A operação policial que havia sido iniciada às 7h da manhã desse mesmo dia, se intensificam. Nos noticiários a tese é difundida com força. Mais uma vez, os bandidos derrubaram um helicóptero da Polícia Militar.

Domingo, 20 de novembro, dia seguinte. São encontrados 7 corpos em um brejo, dentro da região do Caratê. Os corpos são de moradores do Cidade de Deus, em tese, com envolvimento com o tráfico. Em um dos vídeos que corre as redes sociais, o pai de um deles atesta: "Eles foram executados. Tem marca de tortura, tem tiro na nuca." Ele deita no chão e simula a posição em que o filho teria sido executado.

Ao longo do dia os jornais seguem construindo a narrativa do helicóptero abatido por traficantes, até que, à noite, entra uma matéria com 7 minutos no Fantástico com o posicionamento do secretário de segurança, Roberto Sá, que atesta: "A perícia não identificou marcas de tiro na aeronave ainda." E reforça: "É muito cedo para confirmarmos qualquer coisa ainda." Repete.

Assista à matéria aqui.

Não é necessário nenhum grande esforço para deduzir que a morte das 7 pessoas tenha sido motivada por vingança da queda do helicóptero, tantas vezes reforçada pela imprensa. Os próprios policiais e parte da sociedade se orgulha do feito. É o que divulgou a página Orgulho de ser Policial:


Em nenhum veículo, e muito menos na corporação ou Secretaria de Segurança, aparecem ligações da queda do helicóptero com a precária condição de trabalho dos servidores, e a atual situação de calamidade pública em que se encontra o Estado do Rio de Janeiro. A aeronave foi abatida sim. Abatida por um Estado omisso que se nega a cumprir o dever de fornecer condições de trabalho aos servidores e direitos sociais ao moradores da comunidade. E foi abatida também pela mídia corporativa, que se omite do papel crítico que deveria desempenhar ao não questionar o Estado pelo acidente.

Os problemas são estruturais e a crise da segurança pública onde a cidade do Rio está imersa vão muito além do confronto nas ruas entre polícia e bandido. Pra além do que superficialmente aparece de modo sensacionalista nos telejornais, existem vidas que pagam o preço da precarização do estado, da disseminação de uma cultura de ódio que infelizmente ganha cada vez mais força em nossa sociedade. Não há outra solução se não disputar a história a ser contada e aproximar as notícia da realidade das pessoas que vivem o dia-a-dia dessa guerra civil, disfarçada de combate ao tráfico.

Fonte: Ninja 

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