A verdade é que tudo não passa de um "faz de conta". A nossa Justiça está "terceirizada"

O dramático disto tudo é que o exemplo vem de cima, dos Tribunais, inclusive dos superiores. Todos sabem que muitos (senão a maioria) dos votos dos órgãos colegiados são elaborados pelos assessores. O pior é que realizam julgamentos de vários processos em conjunto. Chamam julgamento por "listas". Talvez, por isso, poucos querem se aposentar e, em parte, fingem que trabalham até os 75 anos.

No primeiro grau, é o mesmo "faz de conta". Os estagiários, secretários ou assessores do Ministério Público elaboram muitas de suas peças processuais, o mesmo ocorrendo no âmbito das Defensorias Públicas. Talvez a maioria das sentenças seja redigida pelos secretários ou assessores dos juízes de direito, tudo se repetindo no segundo grau de jurisdição.

Agora, com os chamados " julgamentos virtuais", tudo isto sairá do controle ( se é que existia...). Em outras palavras, "liberou geral".

Não é por outro motivo que estes "operadores do Direito" encontram tempo para viajar e dar palestras, inclusive no estrangeiro. Escrevem textos jurídicos e livros de Direito, embora nem sempre de muita qualidade.

Fingimos tudo isso há muito tempo. Os Delegados de Polícia fingem que presidem os inquéritos policiais e que presidem a lavratura de todos os autos de prisão em flagrante. Juízes e membros do Ministério Público fingem que não sabem.

Em alguns juízos, os membros do Ministério Público e/ou os Defensores Públicos assinam os atos processuais sem que estejam presentes quando da realização dos mesmos. Em alguns juizados especiais, a "bagunça" já se encontra institucionalizada há muito tempo.

Casos há em que se procura, nos corredores do fórum, algum advogado apenas para estar figurando como defensor técnico de algum réu. Sem conhecer o processo, este advogado nada faz de eficaz, apenas legitimando mais uma farsa... É tudo um "faz de conta".

Fingimos que fazemos o que efetivamente não fazemos e fingimos que não sabemos que os outros também fingem ...

Dizem que, se não for assim, a "Justiça" não funciona... É o chamado "jeitinho brasileiro". Talvez seja resultante mesmo de uma certa dose de cinismo ... Seria melhor que todos se unissem e se rebelassem contra este "faz de conta", denunciando estas mazelas à sociedade.

Acho também que a culpa destas "distorções" é de uma lei que ninguém consegue revogar, qual seja, a lei do menor esforço.

Afranio Silva Jardim é professor associado de Direito Processual Penal da Uerj. Mestre e Livre-Docente em Direito Processual Penal (Uerj).

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