A "Carta ao Povo Carioca" e as reais chances de vitória de Freixo

Acho que o segundo turno das eleições do Rio caminham para um resultado favorável a Marcelo Freixo, candidato do PSOL. Análise é do cientista político carioca Lucas C Benevides. "O acordão desesperado de Crivella até com milicianos assusta o Rio", diz.

Os eleitores cariocas poderão eleger Marcelo Freixo por três razões: a primeira é que, apesar de um tanto desconfiados e resistentes a uma prefeitura de esquerda por conta do "neomacartismo" que assola o país, ainda se vê em Freixo um candidato mais coerente, com propostas claras para o desenvolvimento do município, algo fundamental para mudar a situação caótica em que se transformou a cidade do Rio.

A segunda razão que ajudará muito o Freixo nessa reta final é o acordão costurado por Crivella e seus apoiadores de origens bem diferenciadas, o que indica o loteamento da cidade e a distribuição de cargos públicos, o que faz perder muitos eleitores.

A terceira razão está no grau de empenho com que a Rede Globo tem se mostrado na desconstrução da imagem ecumênica, de "homem de Deus", do Crivella. Vem batendo muito e mantendo viva a polêmica do livro e de alguns vídeos onde o candidato do PRB destila preconceito contra homossexuais, contra religiões de matriz africana e outros.

Crivella se esforçou para replicar o modelo de grande aliança que há 13 anos sustenta o PMDB no Rio. Está aliado à Garotinho, ao clã Bolsonaro, a vereadores ligados a milícias, a grupos que controlam centros sociais, enfim, a setores muito conservadores. Nos resta imaginar que tipos de compromissos Crivella terá de cumprir se vencer o pleito do próximo dia 30.

Freixo, por sua vez, cedendo às pressões, divulgará na próxima segunda-feira (24), uma carta aberta, uma espécie de "Carta ao povo Carioca" para tentar desfazer a imagem de radicalismo de sua candidatura. A intenção, obviamente, é neutralizar ataques de Crivella, que tem classificado o projeto de Freixo de ultrarradical, "bolchevista" (?!?!?) e feito críticas a seu programa de governo, frisando que suas propostas vão causar uma expansão descontrolada dos gastos públicos municipais e aumento de impostos.

Com a carta, Freixo também pretende reduzir a resistência ao PSOL junto a eleitores de candidatos derrotados no primeiro turno. O documento será veiculado em seu programa no horário eleitoral e divulgado na internet. Também deverá ser citado na entrevista diária do candidato à TV Globo, que é o espaço de maior exposição da campanha.

O texto ainda está sendo finalizado, mas será curto, e incluirá cerca de cinco pontos. Entre eles, a promessa de ser responsável com as contas da prefeitura, de não fazer nenhuma indicação partidária no Secretariado e de manter diálogo e boa relação com o setor empresarial e as outras esferas de poder, como os governos estadual e federal.

Nesta semana, Freixo já iniciou esse movimento. Desde segunda-feira (17), para demonstrar responsabilidade financeira, passou a defender a redução, de 26 para 16, do número de secretarias da prefeitura. Seriam fundidas, por exemplo, as pastas de Obras e Conservação, e incluída a de Saneamento na Secretaria de Meio Ambiente.

Freixo também retirou do programa de governo o trecho sobre reforma tributária, e que falava em aumento do IPTU. “Atualizar a Planta Genérica de Valores e os fatores de correção para reduzir a defasagem no cálculo do valor venal dos imóveis na cidade, que desde 1999 é corrigido apenas pela inflação”, dizia o trecho suprimido. A campanha alegou que esse tópico estava sendo mal interpretado. Freixo passou a dizer que não aumentará o IPTU.

Foi divulgada ontem (20) a segunda pesquisa Ibope de intenção de voto no segundo turno. O levantamento foi encomendado pela TV Globo e ouviu 1.101 eleitores e eleitoras entre 17 e 19/10; a margem é de 3 pontos.

Votos totais (estimulada):


- Marcelo Crivella (PRB): 46% (pela margem de erro, entre 43% e 49%)
- Marcelo Freixo (PSOL): 29% (entre 26% e 32%)
- Branco/nulo/nenhum: 21%
- Não sabe/não respondeu: 4%

No levantamento anterior, Crivella tinha 51%, e Freixo, 25%. Votariam em branco, nulo ou em nenhum 21% e não souberam/não responderam 3%.

Votos totais (espontânea):


- Marcelo Crivella (PRB): 41% (pela margem de erro, entre 38% e 44%)
- Marcelo Freixo (PSOL): 25% (entre 22% e 28%)
- Outros: 0%
- Branco/nulo/nenhum: 25%
- Não sabe/não respondeu: 9%

No levantamento anterior, Crivella tinha 46%, e Freixo, 21%. Votariam em branco, nulo ou em nenhum 24% e não souberam/não responderam 9%.

Votos válidos (estimulada):


- Crivella (PRB): 61% (pela margem de erro, entre 58% e 64%)
- Marcelo Freixo (PSOL): 39% (entre 36% e 42%)

No levantamento anterior, Crivella tinha 67%, e Freixo, 33%. 

Segundo os tradicionais institutos de pesquisa (Datafolha e Ibope), Crivella ainda tem ampla vantagem na disputa, mas o povo carioca pode reverter esses números no dia 30 de outubro, em favor de Freixo.

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